domingo, janeiro 31, 2016

No Rio Paraná e numa casca do ovo

Quando, numa viagem a Bonito, passei pelo Rio Paraná, senti uma energia diferente vinda daquele lugar. O nome da cidade de Presidente Epitácio me lembrou uma historia que minha mãe contava quando eu era pequeno e que me fascinava pela grandiosidade da aventura. Minha mãe chamava a cidade de "Porto Epitácio" não sei exatamente porque. Imagino que, antes de existir a ponte que liga São Paulo a Mato Grosso do Sul, só se atravessava o grande rio de balsa ou de barco a motor e que ao invés da imponente Ponte, havia um porto onde as pessoas pegavam a balsa. Você ja deve estar curioso pela historia não é? Então vamos a ela. Minha mãe, só para explicar porque a historia era para mim uma historia fantástica e, para quem não sabe, era para plégica e andava de muletas. Ela me contou que meu pai as vezes dava uma sumida no mundo para trabalhar em outras terras e que uma dessas sumidas foi quando ele foi trabalhar para um irmão que ele tinha em Mato Grosso. Ele deixou minha mãe em São Paulo, sempre dizendo que ia arrumar trabalho e que a levaria depois para onde estava e foi trabalhar na lavoura de algodão. Foram tempos duros queles, nos idos de 1950. As coisas estavam difíceis e minha mãe passou a morar com uma de  minhas tias.
Ela costurava para fora e quando os clientes iam pagar o que ela cobrara pela costura, minha tia entrava na frente e pegava todo o dinheiro e não dava nada para ela. Ela comia, dormia e permanecia na casa desta tia por falta de opção. Passou uns perrengue e até fome, porque minha tia vigiava tudo o que ela comia e as vezes dava-lhe pouca comida. Um dia, ela se cansou de tanto esperar por meu pai e de passar apertos e, com meu irmão pequeno no colo(eu ainda não era nascido) resolveu ir para Mato Grosso atras do meu pai. Agora, imaginem, se, para uma pessoa normal, sem dinheiro e com um filho pequeno já seria dificil ir de São Paulo Capital a Mato Grosso, pensem nisto colocando a deficiência de minha mãe que andava de aparelho ortopédico e muletas. Mas não foi esta dificuldade que a impediu de ir até meu pai. Pegou o que pode, uma trouxinha com roupas, meu irmão e lá se foi ela para a rua. Pediu carona e foi caminhando em direção ao seu objetivo. Subiu em boleias de caminhões onde os motoristas, verdadeiros anjos, tiveram que lhe colocar em cima do banco, pois ela não conseguia subir. Chegou em fim, depois de muita estrada na beirada do Rio Paraná. Olhou a imensidão daquele rio. Teve um pouco de medo, pois um acidente qualquer que ocorresse lhe seria fatal, pois não sabia nadas e, naquele tempo, nem se pensava em dar coletes salva-vidas as pessoas que atravessavam de barco. A balsa era muito cara e ela estava sem dinheiro. Conseguiu então um pescador que tinha um barco a motor que lhe levaria de graça para o outro lado. Olhou o barco, comparou com o rio, dominou o medo e foi. Entrou naquele barco e pensou: Se Deus quiser me lavar hoje, estou pronta, mas morro tentando ser feliz. Durante a travessia ela se viu num marzão sem fim de agua doce e, comparando o barco em que estava com o tamanho do rio me disse quando cotava a historia: Eu parecia estar numa pequena casca de ovo no meio do mar sem fim. Esta viagem toda foi para ela um encontro com o divino. O deus que há nas pessoas que a levaram até ali, os anjos que a alimentaram durante o trajeto e a seu filho. O anjo pescador que a atravessou naquele rio enorme, barreiras intransponíveis para alguns, não para ela. Do outro lado do rio ela agradeceu ao pescador e a Deus por ter conseguido chegar até ali. Dali para a frente seguiu no lombo de uma mula com seu filho montado a frente, sempre guiada pela mão invisível de Deus que a levava através das pessoas caridosas que foi encontrando. Seguiu trilhas por léguas e assim chegou no local onde meu pai havia dito que estaria.
Quando a viu, meu pai ficou muito feliz e demorou a compreender como o amor de uma pessoa pudesse traze-la de tão longe em tão difíceis condições. Ela morou com ele numa tapera de madeira coberta de sapé por um bom tempo e preferiu mil vezes estar ali do que ficar longe de meu pai. Mesmo que ali também passasse fome junto com ele, estava com seu amado e sua família. Ela me contou que meu pai dera a ela uma pequena garrucha, uma arma pequena, para que atirasse em algum bicho que porventura entrasse na tapera, ja que ela não podia correr. Ela tinha mais medo de atirar com a arma do que dos bichos. Foram várias as vêzes em que cobras vinham, entravam na tapera e ela ficava imóvel esperando os bichos irem embora, mas nunca teve coragem de atirar nelas. Elas as vezes passavam em seu colo, mas ela se apegava com Deus e orava uma oração de proteção que mandava as cobras embora sem lhe fazerem nenhum mal. Tem outras historias que ela me contava sobre um loro que chamava meu pai na roça quando ele tinha que vir comer gritando: (Isaias era o nome do meu pai) Zaía, vem almoçá! Este pobre loro acabou caindo numa panela de sabão fervente e morreu. Tinham também as histórias dos macacos que tinham os olheiros e que vigiavam para que meu pai não pegasse o bando de surpresa no milharal. Certo dia, meu pai os pegou de surpresa e o "olheiro" apanhou pacas dos outros macacos... Ela achou isto muito engraçado. Bom, esta é a historia de hoje. Espero que tenha gostado. Se gostou, comente pra eu ficar sabendo que você esteve aqui e compartilhe no seu face por favor.

sábado, janeiro 30, 2016

Café com Farinha de milho em flocos




Eram umas 3 da tarde.Havia chovido no bairro. Cheiro de terra molhada. Terra vermelha que quando tava seca era pura poeira. A casa só tinha um quarto e um banheiro. Era de madeira. O menino sentado ali na porta via passar na rua carroças carregando ferro velho. Estava difícil a passagem das pessoas. A rua estava que era pura lama. Quintais abertos das casas vizinhas mostravam o quanto o bairro ainda era novo. O menino tinha os pés descalços e lama por fora deles. Pés frios de andar na lama. Sentia lama por dentro e lama por fora. Não via onde tudo aquilo poderia dar. Tudo aquilo era o que ele tinha. Mãe e pai pobres. Irmãos para dividir a comida. Sentado ali ele criava uma planta dentro da lama que havia dentro de si. Criava uma planta verde como um pé de milho. Esta planta lhe dava uma espiga cheia de idéias e estas idéias poderiam dar mais idéias quando plantadas. Para brincar, idéias. Um pedaço de caibro virava um caminhãozinho. Um pausinho menor virava um carro e vrrruuuum....dai um pregador virava um hominho que enfincado na lama esperava o carro para poder sair dali daquele bairro cheio de lama.
O carrinho de pau vinha e parava em frente ao hominho. Era um taxi. O hominho dera sinal. Mas não podia ficar ali parado por muito tempo porque o caminhão queria passar. Bibi, buzinou o caminhão. Quero passar poxa. -Passa por cima, disse o taxista que abria a porta do carrinho para o hominho. O menino via um futuro no qual os carros e caminhões viravam aviões. Dai o motorista do caminhão ficou bravo, ligou uma turbina e voou por cima do carrinho. O motorista do taxi nem ligou. Tava acostumado a ver caminhões voarem e pousarem logo a frente. O hominho pregador sentou em cima do carrinho e este se moveu. A mente do menino prosseguiu com a brincadeira e ele fazia barulhos de turbinas de avião, motores de carro. Encontrou quatro gravetos no meio da lama e fincou no chão. era a casinha do hominho. O taxi chegou na porta e o hominho pagou a corrida. -Obrigado seu motorista.  -De nada disse o Taxista. Parou um pouco de brincar quando sentiu cheiro de café fresco. Era o café fraco e doce de sua mãe. -Qué tomá café filho? Sim mãe, ele responde e pergunta  - Tem farinha de milho grosso? -Tem filho, ja sei qué pô no café né?
O menino entra na casa de chão batido. Apenas uns poucos móveis improvisados feitos pelo próprio pai. Quatro caibros e um compensado viraram uma mesa. O fogão a lenha, o copo de plástico. O menino despeja o café no copo, o cheiro, ah o cheiro do café da mãe é maravilhoso. Depois pega a farinha de milho em flocos e coloca dentro do copo de café. Hum, que delicia.Come com a colher. Ele adora farinha de milho com café. Tem coisa melhor no mundo? Ele senta na cama. A cama é um girau. Novamente quatro paus e um compensado viraram uma cama nas mãos fortes do pai. O pai não está, chega mais tarde. Ainda bem. O pai é briguento e sempre põe defeito no que o menino faz. Quando o pai não está vendo o menino faz caretas nas costas dele. Velho chato, pensa. E volta para a soleira da porta. a chuva cai de novo. O cafe esquentou por dentro. a barriga não ronca mais e pode então retomar a brincadeira. Quer mesmo é ir pra chuva brincar na enxurrada. Quando chove é legal porque ficam grandes poças de água na rua e dá pra pensar que é uma piscina. A mãe não deixa o menino brincar nas poças d'água. -Tem bichinhos nesta água, menino. pega doença. Que bichinos o que? Cadê os bichinhos que o menino não vê. Quando a mãe se distrai, ele pega a brincar nas poças d'água. A noite vem. Os sapos cantam sua mais alegre melodia. O menino não entende como os sapos podem cantar no meio da água fria do brejo verde que tem perto de casa.Quem canta tem alegria, como os sapos podem estar alegres se tão com frio.
Mas eles cantam. Foi, foi, foi , foi e por ai vão no seu foi foi sem fim. Hora de tomar banho. Os pés, as pernas estão sujos de lama vermelha. As mãos então nem se fale. A mãe esquenta a água no fogão a lenha improvisado que tem do lado de fora da casa. A água vem do poço. O menino ainda não tem força pra carregar o próprio balde, quem carrega a água é o irmão mais velho. Ele puxa a água com um sarilho que tem lá no poço. O balde é daqueles de alumínio que tem uma alça. amarrado numa corda o balde desce no poço e sobe cheio, dai o irmão tira a água e põe num latão que é um reservatório. Quando a pai chega em casa do trabalho, o latão tem que estar cheio, senão o irmão apanha. A mãe não pode pegar água porque não tem forças no braço pra isto. Dai o irmão traz água pra mãe que coloca numa lata grande no fogo e esquenta para o banho. Dai tem uma bacia grande de alumínio. A mãe põe a água quentinha dentro, mistura com água fria e da banho no menino ali, no meio da casa. O menino gosta de estar limpinho da lama vermelha que tinha no corpo. A mãe enxuga o menino e o deixa sequinho, quentinho e com as roupas que vai dormir e usar no outro dia. Todos dormem no mesmo quarto. O pai e a mãe dormem na cama com a menina  bebê. Os três irmãos dormem num colchãozinho no chão. O menino nem vê onde tá dormindo, a noite ele simplesmente apaga e sonha. Sonha com a casa da avó.Lá tem frutas deliciosas como mamão, manga e pêssego. E o cheiro. cheiro de casa da avó é muito bom. Lá tem doce, tem balas que o avô sempre trás para os netos. Ele sonha que está lá naquele bairro que a avó mora, la tem ruas asfaltadas, jogo de bola com o Carlinhos no corredor de entrada das casas e a avó conta histórias que leu de livros. Os avós ensinam o menino sobre as bandeiras de todo o mundo e ensinam a ele as primeiras letras. -Está quase lendo este menino, vai ser esperto na escola. Depois da  noite de sonhos lindos com a casa da avó o menino começa a ouvir de novo os sons do dia. Não está na casa da avó, está em sua casa. Parecia tão real, mas não, era sonho. O pai levanta as 5 da manhã para ir trabalhar longe. a mãe lhe dá um beijo e deseja bom trabalho. Dai o galo do vizinho canta. Dai a mãe levanta e começa a lavar a louça e lá vem o cheiro do café delicioso que o pai nem teve tempo de tomar antes de ir pro trabalho. Dai ele levanta e olha na rua de terra, agora mais seca do que ontem, moleque que rodam pneus velhos de carro com as mãos e correm para lá e para cá. Novo dia. Café gostoso com farinha de milho. Chuva, barro vermelho. Lama nos pés. Pes com lama por fora. Menino com lama por dentro. Tocos, carros voadores. Espiga de idéias. Tudo de novo que parece que nunca vai ter fim, tempo que não passa, coisa que parece que nunca vai mudar. Mas nada é urgente senão matar a fome e nada tem pressa, nem a chuva de ir embora, nem a lama de secar por dentro e por fora.

quinta-feira, janeiro 28, 2016

Alguns ensaios meus sobre o tempo:

Daqui de dentro Vejo o tempo que passa correndo feito as notas de uma música sem fim que não vai nunca mais se repetir Vejo da Escócia o lindo lago Ness Da Espanha, meninas de top-less brincando numa praia de Barcelona Mas não há como, mesmo que eu tente parar a música do tempo antes que eu vá e que a dor aumente quero ser feliz neste momento Ouvi de um homem que viveu intensamente não dormia, cochilava, dizia que tinha a vida inteira e era pouco tempo para desvendar os mistérios que o cercavam Quanto tempo meu amor, vou precisar para descobrir e decodificar os segredos do teu coração? e este tempo que não para, preciso de mais 100 anos para achar que tenho tempo. 26.09.1999 Tempo Quando se tem se escorre, Quando não se tem, se morre. Quando se tem muito, envelhece. Quando não se tem dá stresse. Quando se tem sono, se perde Num congestionamento continua correndo Mesmo com seu veiculo, o relógio, parado, anda. Deixa marcas na pele de sua passagem por nós Leva reis, rainhas e mães, leva gente comum como eu e você, breve é o tempo que vivemos quando não nos damos conta do tempo que temos Quem tem a medida do tempo? Quem nunca o perdeu na vida? Quem procura de onde ele vem? Quem achou resposta ou saída do labirinto do tempo? Quem olha para tras e não quer voltar? Para colher a flor que esqueceu a beira do caminho. Quem ficaria indeciso se pudesse voltar? para ver as coisas que não teve TEMPO.
26.09.1999 Espera e tempo Olho os ponteiros, nesta esquina tão movimentada, ela não vem e os ponteiros avançam... Passam homens e mulheres, cachorros passeiam seus donos, mas onde está o brilho do seu olhar? Meu coração ainda bate, tum tum tum... Entro num bar e tomo um café, Faço um comentário para o tempo passar, O homem ri e me dá o troco. Tum tum tum, tenho limites, não há mais tempo. Sinto não poder mais esperar... Vou dar tudo por perdido. Quando me viro pronto para sumir na multidão... la vem, num vestido branco, timida e faceira, ela que tanto me fez esperar. Penso em reclamar pela demora, penso até em sumir, mas vejo-lhe a face alegre TUM,TUM, TUM... fecho os olhos, durmo para o mundo e ela me leva num segundo para onde quiser. AMóR te...

quarta-feira, janeiro 20, 2016

O James Bond Argentino



Tenho um amigo argentino de 70 anos que é uma figura. Desses amigos que você gruda nele e fica torrando até que ele lhe conte uma boa historia. A historia que relato aqui foi contada em várias partes onde ele volta sempre e conta com mais alguns detalhes que fui juntando e talvez até venha a acrescentar algo mais depois de te-la escrito.
Ele é engenheiro eletrônico. Hoje tem uma chácara em Ibiúna que aluga para fins de semana e feriados e vive de concertos em aparelhos eletrônicos que são para mim complicadíssimos, mas para ele são apenas repetições de circuitos e componentes que testa e faz reparos. Tem uma memória fantástica e uma inteligência e expertise em seu ramo de dar inveja aos que exercem sua profissão. Por ter sido militar ele conserva em seu comportamento resquícios de uma disciplina militar super rígida e que denunciam sua formação e sua militância nas forças armadas.
Quando jovem ele foi da policia federal da argentina e solucionava casos complicadíssimos que dariam material farto para filmes do estilo "James Bond". Foi treinado para matar inimigos públicos com todos os tipos de armas, inclusive seu próprio corpo era uma arma letal a quem lhe cruzasse o caminho e quisesse impor violência. Contou-me casos em que desarmou bombas, se disfarçou para poder chegar a chefões do crime organizado e agentes subversivos que queriam até matar seu presidente com armações das mais complicadas e incríveis.
O fatos que ele se apaixonou por uma moça e queria se casar com ela. Os pais da moça concederam-lhe a mão da amada com uma condição. Que ele se casasse e em seguida viajasse para Israel, para onde os pais dela iriam em seguida morar também, só faltavam alguns preparativos que os segurariam por mais um tempo na argentina e para lá viajariam também. Entrou no navio com sua amada e me relatou que, já no Rio de Janeiro, escala do navio, teve uma vontade imensa de jogar sua agora esposa pela janela para se livrar dela porque era muito ciumenta. Ele era bonitão, na verdade o é até hoje, mesmo na velhice. Ela o vigiava o tempo todo e faziam cenas de ciúmes em qualquer ambiente  do navio onde qualquer moça simplesmente olhasse para ele ou conversasse com ele. Na viagem decorreu quase tudo bem, mas a esposa teve muito enjoo e vomitava sem parar, o que lhe fizera ficar um tanto refém da convalescença dela. Ela não queria sair da cabine, mas, se ele saísse, ia atras para ver onde e com quem ele estava. Como as mulheres viam aquele cara bonitão "dando sopa" logo chegavam perto e começavam a querer conversar para conhecê-lo. Logo vinha a esposa e pronto, mais uma cena de ciúmes, brigas e confinamento na cabine em, que os dois permaneciam a maior parte do tempo. Ao chegar em Israel, antes de sair do navio ele recebeu uma carta do comandante dizendo que queria que ele comparecesse urgente a uma reunião no comando, assunto oficial. Ele não entendeu bem o porque da convocação, mas tinha que comparecer a tal reunião. Quando chegou na sala indicada, o comandante lhe disse o seguinte:
-sabemos que você foi da inteligência argentina e que era um dos melhores agentes em seu pais. Estamos lhe convocando para pertencer as forças armadas de israel. Lhe daremos o treinamento necessário para as missões que teremos para você. Sua esposa ficarâ num hotel com tudo pago pelo governo e terá uma condição financeira invejável. Daremos alguns dias para você conhecer a cidade e  descansar da viagem e logo lhe convocaremos para o serviço. Cederemos o seu uniforme e tudo o que você tem que fazer quando convocado é comparecer ao local indicado para treinamento antes das missões que lhe serão designadas. Vamos treina-lo como piloto da força aérea israelense e você irá atuar na manutenção e concerto de aeronaves e também vai pilotar aviões no decorrer de sua estada aqui. Ela, é claro, ficou lisonjeado com o convite e aceitou na hora, sem mais perguntas. Isto resolvia para ele o problema de ter que arranjar algum emprego em Israel, o problema da moradia e também o afastaria da mulher ciumenta durante as missões.
De fato, ele ficou uma semana e pouco conhecendo a cidade e se ambientando ao novo pais. Soube que os pais dela nunca iriam para Israel e usaram o casamento como pretexto para que ele aceitasse viajar e participar das forças israelense. Se tivessem lhe contado a verdadeira intenção de envia-lo para israel ele talvez não tivesse aceitado e se dissessem que o pai dela era um recrutador de especialistas para o exercito Israelense, talvez, pelo seu espírito livre e um tanto egoísta, ele não teria ido.
Ele conta que o treinamento militar era duro. Ele tinha que andar no deserto com todo o aparato de soldado. Roupas quentes, mochila pesadíssima que lhe forçavam os joelhos e treinaram-no sob as mais duras condições para que ele pudesse se sair bem nas missões. Em várias ocasiões, ele tinha que correr com todo o peso que carregava e pular na caçamba de caminhões de guerra (com pneus na frente e esteiras de tanque atras) e os caminhões estariam em movimento. Treinou tiro ao alvo e foi um dos melhores. Fez treinamento com armas brancas e aprendeu crav maga, uma modalidade de artes marciais que faz com que qualquer "Davi" subjugue qualquer "gigante Golias" com apenas um movimento de dedos. No treinamento, em algumas ocasiões ele tinha que colocar os dedos na areia quente e retirar depois de segurar um pouco. Os dedos iam ficando rígidos e a intenção era que ficassem fortes como o aço e rompesse qualquer substância dura com madeira ou mesmo carne e osso facilmente. Aprendeu pontos do corpo humano onde um toque apenas podia jogar no chão desmaiado ou morto um oponente que, quanto mais musculoso e grande fosse, pior seria o tombo.  Teve que todas as manhãs, pegar uma canoa na beira do mar e remar até uma ilha onde deveria chegar, se apresentar marcando sua presença com precisão de tempo e depois voltar ao continente com tempo contado em segundos. Durante o dia aprendia tudo sobre mecânica de aviões, colocação e retirada de misseis nos aviões e tudo sobre pilotagem de caças.
Ele foi muito bem nos treinamentos e logo, depois de poucos meses foi-lhe designada a primeira missão na guerra do golfo ou guerra do Iraque. Esta guerra e esta historia portanto, ocorreu pelos idos de 1990, quando Saddan Hussein, presidente e ditador do Iraque resolveu invadir o pais vizinho, o Kwait e tomou o pais como sua 19a província. Não vou me estender sobre o contexto dessa guerra porque hoje é muito fácil obter mais informações sobre ela na internet. Em suma, países aliados aos EUA fizeram um cerco e bombardearam o Iraque até a destruição quase total do pais. Israel enviava seus caças em missões de bombardeio e também para verificar em comunidades no deserto se haviam Iraquianos disfarçados de beduínos chegando mais perto do território israelense. Foi numa dessas missões que meu amigo foi enviado. Havia um acampamento que ele e sua companhia devia checar e lá se foi o batalhão que treinara nosso James Bond Argentino. Durante a revista, descobriram que realmente haviam inimigos infiltrados no acampamento e um deles era um lider sanguinário do qual ja haviam obtido informações. 
Em vantagem pelo elemento surpresa, renderam sem muito tiroteio necessário  os infiltrados e o lider . Na noite em que isto ocorreu, o comandante da tropa ficou sabendo que nascera seu filho e comunicou a tropa com muita alegria. Meu amigo, que gostava do comandante rejubilou com a noticia e comemorou com a tropa. O comandante israelense, movido pela emoção quis humanizar a prisão do líder iraquiano. Chegou perto dele, disse que seu filho havia nascido e, como estava muito feliz, daria-lhe um pouco de vinho e soltaria suas amarras para que bebesse e comemorasse com eles. Fiava-se o comandante no fato de que só soltaria um prisioneiro e que haviam em volta dele vários soldados israelenses, logo o homem nem pensaria em fazer qualquer ato de violencia ou nem pensaria em fugir. Quando o comandante empessoa soltou o homem, ele pegou-lhe a arma rapidamente e com a baioneta rasgou a barriga do comandante de forma que seus intestinos vieram para fora e ele caiu imediatamente morrendo segundos depois. Nosso James Bond Argentino quando viu aquilo, imediatamente passou fogo no homem com sua metralhadora. Primeiro nas coxas para que ele caísse, tomou-lhe a arma do comandante e desta vez atirou em seus pés com ela. Depois que o homem sofreu um bocado, atirou no abdômen e depois na cabeça. Poxa, mas você o matou friamente assim? perguntei eu no decorrer de sua historia. Ele me respondeu, sim. O comandante afinal era meu amigo e lhe fizera um gesto de amizade soltando-o e ele agiu deste jeito. Que mais poderia fazer? Sei lá, respondi eu, matasse o cara logo de vez. Mas e os soldados presentes o que fizeram? perguntei imaginando a cena. Alguns ja haviam bebido um pouco na comemoração e estavam meio lesos. Tudo aconteceu em poucos segundos, nem sei te dizer o tempo. Um dos soldados apavorados pegou a metralhadora e também atirou no cara, só que a pontaria dele não foi das melhores. As balas pegaram numa pedra que havia perto e uma delas ricocheteou pegando em minha perna. Quando me dei por conta estava eu, no meio do deserto, com aquele monte de soldados e ferido a noite. Os soldados viram o sangue em minhas pernas e vieram ao meu socorro. Eu sabia que iria apagar em breve se não contivesse o meu sangue que esvaia. Levávamos em nosso kit de sobrevivência uma agulha para costurar cortes. Arranquei fios de nylon de minha jaqueta, enfiei na agulha e pedi a um soldado que esterilizasse minha faca na fogueira. Ele a queimou no fogo e, ardendo como estava, eu enfiei no corte e retirei o chumbo que havia entrado. Com a agulha e linha costurei minha perna bem aqui. E me mostrou a cicatriz que tem até hoje acima da canela, na barriga da perna. -Então costurei esquecendo a dor e cuidando de fazer pontos firmes e em espaço pequeno um do outro. Fui fechando até costurar tudo. Os soldados a minha volta se enojavam e sentiam por mim a dor que eu me negava a sentir.Passei uma gaze por cima e amarei e assim o sangue foi sendo contido e parou de sair. Mas eu sabia que se não fizesse isto poderia causar gangrena ou uma infecção séria até ser atendido num hospital de base que sabia la eu quando ocorreria o atendimento. No outro dia conseguiram me levar para um hospital de base e os médicos ficaram admirados com o meu procedimento. Eles tiraram raio x e constataram que não havia mais chumbou ali. Me parabenizaram e disseram que felizmente eu não costurara constrangendo nenhuma veia ou artéria e que tudo ia ficar bem se eu trocasse os curativos. A guerra prosseguiu ainda por um tempo e meu amigo depois de recuperado ainda participaria de algumas missões. Depois, a guerra acabou e ele então foi dispensado dos serviços e em pouco tempo quis voltar a Argentina com a esposa. Sei que ele se separou dela, porque teve outros casamentos. Depois de um tempo ele veio morar no Brasil e viveu aventuras aqui porque inventava produtos eletrônicos que o deixaram muito bem de finanças por um bom tempo. Ele hoje conta muitas historias e eu sempre o instigo sempre a me contar mais pois suas histórias são sempre interessantes como achei esta.