Dessa biblioteca escolhi alguns contos para vocês e aqui vai o primeiro;
Casa
da árvore numero zero
Quem passa por aquela praça
onde tem uma casa na árvore não sabe da história que aconteceu há
40 anos atrás. Hoje a casa é conservada por um grupo de senhores,
donos de restaurantes que se espalharam por toda a cidade de Sar que
fica no pais de Idur. Só um habitante do bairro, velho demais para
morar na casa e já aposentado também do seu trabalho em
restaurantes sabe contar a história como ninguém. É um velho que
vive praticamente debaixo da casa da árvore a cuidar dela enquanto
joga damas com os meninos que vem da escola direto para brincar na
casa da árvore e, enquanto estão por ali, jogam damas e xadrez como
o velho. Como há muitas crianças na cidade, que cresce a cada dia,
sempre tem uma mais curiosa que pergunta ao velho: Quem construiu
esta casa na árvore? O velho parece que espera por esta pergunta
todos os dias, e quando uma criança a faz ele não se cansa de
contar e recontar a mesma história.
-Então você quer saber quem
fez esta casa? Muito bem, vou lhe contar a história, mas sente-se e
ouça, não gosto de ser deixado no meio da história falando
sozinho. Se sua mãe chamar pra ir pra casa, eu continuo a história
amanhã, compromisso fechado? Vais ouvir a história até o fim?
Invariavelmente as crianças
respondem que sim e o velho começa a recontar a velha história,
cada vez com um detalhe diferente. É por estes novos detalhes que as
crianças que já ouviram a história ficam ali de butuca, ouvindo
também. Já teve dias em que o velho contou a história, ou parte
dela, para mais de 20 crianças ao mesmo tempo. Elas não piscam,
ficam sempre atentas às aventuras nessa história contidas.
-Bom, vamos então ao início,
começa o velho. Era uma vez um retirante do nordeste que veio para a
cidade de Sar para ganhar dinheiro e construir sua vida. Ele morava
em um lugar de seca, muito afastado da cidade e um dia, ouviu falar
que aqui na cidade grande havia muita água e sempre um lugar para
trabalhar, ganhar dinheiro e formar família. Seu nome era Jânio
João da Silva, mas as pessoas o conheciam pelo apelido que lhe
tinham dado desde criança e pelo qual vamos chamá-lo de agora em
diante. Janjão. Quando Janjão chegou na cidade de Sar não tinha
nem dinheiro para comprar comida. Veio num ônibus apertado cuja
passagem conseguira que um amigo lhe pagasse. Era moço, cheio de
força para trabalhar. Começou carregando sacos de cebola e batata
no Centro de Distribuição Agrícola da cidade. De tanto carregar
sacos, Janjão foi ficando cada vez mais musculoso e forte. Janjão
comia bem, porque ao fim de cada dia tinha gastado tanta energia que
precisava repor com um belo prato de hortaliças, ovos cozidos,
batata doce e inhame. Para o almoço sempre levava sua marmita com
arroz, feijão, ovos e muita salada e assim saciava sua fome de
trabalhador braçal. Enquanto almoçava sempre pensava em ter seu
próprio negócio, um restaurante. Já que trabalhava carregando
tanta comida, ele pensava, podia bem aproveitar os melhores preços
que via das sacas de cebola, laranja, pimentão, batata, batata-doce
, arroz, feijão e outras culturas para comprar para seu restaurante
que já estava bem desenhado em sua mente. Seria naquela esquina ali,
perto da praça onde tinha uma árvore enorme. Era uma esquina boa e
ainda estava vazia. Janjão sempre torcia a cada dia para que o dono
não tivesse ideia semelhante à sua e não alugasse nem vendesse o
terreno para ninguém. Um belo dia, Janjão já tinha ajuntado
dinheiro suficiente com seu trabalho de carregador e resolveu alugar
o terreno e comprar as tralhas para montar seu próprio restaurante.
Alugou metade da esquina por 500 dinheiros e ficou muito feliz com
sua aquisição. Não alugou a esquina inteira porque tinha que
deixar dinheiro para uns 6 meses de aluguel, caso a coisa demorasse a
dar certo e além disto tinha que comprar fogão, botijão de gás,
mesas e cadeiras, enfim todos os apetrechos mínimos para montar seu
restaurante. Ele se fiava também no fato de que conhecia os fiscais
da prefeitura que sempre tomavam café no mesmo bar que ele e que
esses o ajudariam a tirar sua licença para poder trabalhar em seu
restaurante em paz. Bom, alugado o terreno e tendo Janjão montado
seu restaurante sob um telhado que ele mesmo construiu, servia-lhe de
cozinha um trailer que ele comprou usado, mas que já era adaptado
para ser uma cozinha de restaurante. Caso um dia precisasse se mudar
daquele terreno, poderia levar sua cozinha junto e montar seu
restaurante em outro lugar. Tudo certo e planejado, Janjão começou
a fazer sucesso com sua comida. Ele aprendera a cozinhar com o
pessoal do restaurante da Central de Distribuição Agrícola onde
trabalhara, foi adaptando receitas básicas até que sua culinária
ficou bem comentada por toda a cidade de Sar. Janjão trabalhava aos
sábados, domingos e feriados, por isto seu restaurante sempre estava
apinhado de clientes. Ele não tinha medo de trabalho, queria
construir sua vida e ali estava ele, caminhando a passos largos para
construir algo maior que nem ele sabia o que seria naquele momento.
Só tinha tempo para trabalhar, então nem namorada arranjava, mas
tinha fé que a moça certa apareceria no devido tempo. Um belo dia
de sol, quando Janjão estava trabalhando em seu restaurante, viu um
pessoal trazendo materiais de construção para o terreno ao lado,
que ele, por que trabalhava tanto e não teve tempo, não alugou para
aumentar seu restaurante. -Adivinhem que tipo de comércio montaram
ali ao lado?
As crianças que ouviam o velho
nem faziam ideia e ficavam olhando com cara de paisagem para ele.
-Tá bom eu digo. Montaram ali
do lado um outro restaurante. Confiados em que a comida de Janjão
era tão famosa na cidade em que muitos clientes vinham ao seu
restaurante, os irmãos Mateus e Lucas Cordeiro montaram então ao
lado um restaurante não tão bem aparelhado como o de Janjão, mas
ao menos com o mesmo espaço em mesas e cadeiras. Ali então ficaram
os dois competidores. Os irmãos cordeiro brigavam por clientes e
trapaceavam oferecendo coisas grátis para que os clientes de Janjão
experimentassem da sua comida que aliás era tão boa quanto a de
Janjão e só perdia na criatividade dos pratos. Janjão tentou
travar amizade com os empregados dos irmãos Cordeiro e com os
próprios irmãos, mas qual nada, eles nem queriam papo, queriam mais
era tirar toda a clientela de Janjão. Ah, esqueci de falar que o
nome do restaurante de Janjão era...alguém tem uma ideia?
Novamente as crianças olhavam com cara de paisagem para o velho....
-Vamos lá, chutem qualquer
nome, quem sabe vocês acertam.
Nessa leva de crianças um
menino de cabelo encaracolado, sardas no rostinho e bochechas gordas
gritou....
-Que tal “Restaurante do
Janjão?”
-Incrível! Como você sabia?
-É que eu sou muito
inteligente, disse o menino
-Concordo, respostou o velho.
Você é um orgulho para seus pais e amigos porque era esse mesmo o
nome. Restaurante do Janjão. E ao lado havia então o “Restaurante
do Lado” nome dado ao restaurante dos irmãos cordeiro. Pensado e
repensado por eles mesmos que não eram donos de criatividade muito
boa.
A concorrência entre os dois
restaurantes se acirrava a cada dia mas Janjão sempre inovava seus
pratos. Aprendeu a seguir receitas olhando nos livros e sempre tinha
uma novidade a oferecer. No Restaurante do Lado a comida era quase
sempre a mesma. O menu não era variado e sempre se sabia o que
encontrar lá. Os irmãos Cordeiro queriam era ganhar dinheiro e não
se importavam em deixar os clientes satisfeitos ou encantados com a
comida.
Janjão passou a nem ligar para
a concorrência, visto que seu negócio ia de vento em popa até que
um dia, notou que alguns item havia sumido durante a noite da sua
dispensa.
-Gatunos esses irmãos Cordeiro.
Agora estão dando de roubar minhas provisões e me deixar na mão
com meus clientes a pedir pratos que fico impossibilitado de fazer?
Eu vou pega-los no pulo. Vou ficar hoje de butuca, escondido num
cantinho bem escuro e quando o ladrão entrar, ah, ele vai ver.
E o pior é que o que sumia não
era coisa de valor. O que estariam tramando os Cordeiro roubando pão,
bolachas que eram usadas no pavê de sobremesa, chocolates que eram
usados nos mousses deliciosos que Janjão servia. Aquilo o deixara
encafifado.
Na noite que se segui ao
primeiro roubo, depois de fechar o restaurante, lá estava Janjão
escondido atrás de umas barricas de chops, no escuro quando ouvi
alguns ruídos de gente entrando no restaurante. Pé ante pé ele via
entrando um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito.....nove
passaram mais dois perdeu a conta.....quanto dá mesmo? Nove mais
dois?
O velhinho sempre fazia
perguntas no meio de sua narrativa para ver se as crianças estavam
ainda prestando atenção. Ele detestava platéias dispersas e gente
dormindo durante suas contações de história.
-Onze, gritou de novo o
molequinho de sardas e cabelo ruivo encaracolado.
-Ah, você está muito esperto
hoje heim.
-Sim, continuou, e contou mais
um...ficaram doze, doze moleques, todos menores de 6 anos, uns com
uns 4 outros com 5 anos mais ou menos, todos entraram, pé ante pé e
começaram a pilhagem.
Janjão começou a olhar aquela
turma e observar o que eles queriam.
Era só comida que procuravam.
Janjão resolveu não interferir naquele dia e ficou ali escondido.
Seu coração mole o obrigou a ficar quieto ali no canto vendo
aquelas crianças comendo do seu mingau sem pagar nada.
-Hei, gritou um deles – Aqui
tem comida pronta, deixem as bolachas pra sobremesa.
Todos foram aos tachos de comida
que tinham sobrado do dia e comeram a valer. E Janjão ali, já não
aguentava mais ficar es condido porque estava agachado mas sabia que
se levantasse eles iam correr e poderiam nunca mais voltar ali. Ele
fora menino de rua em sua cidade por um tempo e sabia o quão
importante era comer quando se mora na rua. Então resolveu que todas
as noites deixaria doze pratos de comida para os moleque antes de
sair do restaurante. Seria sua missão e seu agradecimento a Deus
pelos clientes que tinha e pelos seus negócios estarem indo muito
bem. A princípio ele não diria nada aos meninos nem a ninguém,
depois poderia tentar um contato.
E assim, quando os meninos foram
embora já eram quatro e tal da madrugada, Janjão foi para a cama,
pois dormia ali, no restaurante mesmo, e ficou pensando de onde
teriam aparecido esta turminha de meninos e se ele não poderia
ajudá-los de alguma forma.
Na outra noite, quando os
meninos entraram haviam doze pratos sobre uma enorme mesa que Janjão
montou especialmente para seus hospedes noturnos.
Os meninos foram entrando, pé
ante pé e Janjão ficou novamente ali escondido. Como sabia que iria
ter que se demorar escondido atrás dos barris de chope ele já levou
um banquinho e ali permaneceu escondido e sentado durante todo o
assalto.
Janjão deixara também, além
de comida, uns doces e bolachas que eles levariam para passar o dia
sem fome, fossem por onde fossem. Janjão se perguntava, o que eles
faziam durante o dia? Será que moravam al algum lugar? Resolveu
então segui-los quando saíssem naquela noite. Depois que todos
comeram e riram a valer com histórias que um ou outro contavam do
que tinham feito durante o dia, deu o tempo de saírem. Eles não
imaginavam que estavam sendo vigiados e que os pratos com comida
foram ali deixados de propósito por Janjão. Saíram pela rua afora e
andaram até a praça onde havia uma árvore imensa. Era bem perto do
restaurante a praça, mas Janjão, como trabalhava que nem um doido
o dia inteiro para manter seu negócio caminhando e prosperando,
nunca tinha visto que, durante o dia todo aquelas crianças, todos
meninos, ali permaneciam quase o dia todo. Eles deitavam na grama da
praça sob a sombra da árvore e praticamente dormiam o dia todo.
Janjão, ao ver onde afinal eles
iam quando saiam do seu restaurante se contentou pro aquele dia. Era
um avanço. Sabia agora onde era o quartel general dos moleque que
invadiam seu restaurante todas as noites.
Por algumas noites, Janjão
deixou-se apenas observar os meninos enquanto comiam. Notou que tinha
uma certa organização e ficou até curioso para saber quem era o
chefe do bando. Viu um menino maior, de 6 anos, pele negra, cabelo
pixaim e olhos negros comandando tudo e dando bronca quando algum
menino fazia sujeira. O chefe dos meninos era chamado de Igor e tinha
o respeito de todos os outros. Quando saiam ele sempre mandava os
outros começarem a limpar toda a bagunça que por acaso tivessem
feito e ele mesmo limpava comidas que tivessem caído na mesa ou
pegava plásticos que houvessem caído no chão. Tudo tinha uma certa
ordem. Com o tempo, eles só vinham, comiam e não mexiam em mais
nada. Era como se soubessem que alguém em segredo estava cuidando
deles. Um dia, uma jornalista da cidade, Enna Santos começou a ficar
curiosa vendo crianças todos os dias ali naquela praça.
Perguntava-se: -O que será que fazem os pais dessas crianças? Será
que são todos órfãos? E as perguntas não paravam de perturbar a
mente da jornalista. Até que ela resolveu segui-los o tempo todo por
onde iam, sempre escondida para não tirar a naturalidade dos seus
movimentos. Ela se inteirou de toda a história. As crianças eram
alimentadas pelo “Restaurante do Janjão” e todos as noites iam
ali para comer. Mas porque Janjão não falava com as crianças e
simplesmente abria e fechava a porta da frente para a molecada entrar
e comer?
Um dia após ter descoberto todo
o movimento, a jornalista foi até o restaurante, pediu um prato
suculento daqueles que Janjão sabia muito bem fazer e, antes de
pagar a conta perguntou a Janjão: -Porque você não deixa os
moleques que comem aqui durante a noite entrarem pela porta da frente
do restaurante.
Janjão ficou branco, quase
desmaiou depois desta pergunta. Falou que ele sabia que se ele
aparecesse durante a noite e dissesse que eles podiam vir todas as
noites ali comer, que eles podiam ficar com medo e fugir e isto ele
não queria. Ele tinha tomado como missão alimentar aquelas
crianças. Pediu encarecidamente a jornalista que jamais publicasse
nada sobre aquela história até que um dia ele desse então
consentimento. Se ela fizesse isto, despertaria a curiosidade das
pessoas na cidade e coisas muito ruins poderiam acontecer de formas
que ele não mais pudesse fazer este trabalho de caridade. Garantiu a
repórter que queria mesmo era ver todas aquelas crianças na escola
estudando, coisa que não faziam pois passavam o dia inteiro na rua.
Mas ele tomaria providências com o tempo para que tudo ficasse
melhor para aqueles moleques de quem já se afeiçoara tanto.
A jornalista então saiu
prometendo que não iria publicar nada até segunda ordem , o que
deixou Janjão mais tranquilo, mas ainda com uma pulga atras da
orelha.
Os dias se passaram e as noites
também. Janjão ouviu, numa das noites, um menino mencionar que
achara algumas tábuas e que poderiam começar a construir uma casa
na árvore. Um dos meninos achou um martelo e alguns pregos. No outro
dia, Janjão, muito curioso, deixou um pouco seu restaurante na mão
dos empregados e foi até a praça ver o que os meninos estavam
aprontando. Quando lá chegou era um bate-bate daqui e um bate-bate
de lá. Os meninos começaram a buscar mais e mais tábuas de rejeito
na serraria e a pregar freneticamente umas tábuas as outras em
volta da árvore e a montar um barraco de tábuas em volta da árvore.
Janjão achou aquilo muito inseguro e logo pensou em fazer algo para
abrigar aqueles moleque. Foi até uma marcenaria e contratou um
marceneiro pagando o mesmo para fazer uma bela casa na árvore que
coubesse doze camas de solteiro, uma para cada menino. A casa deveria
ser segura e no alto da árvore, de formas que lá só chegariam os
moleques. Deveriam ser contratados vários trabalhadores para que a
casa ficasse pronta em apenas uma noite e em poucas horas. Deveriam
ser tiradas as tábuas pregadas pelos meninos e no lugar seria
colocada uma linda casa da árvore, onde eles passariam os dias
dormindo, já que a noite saiam para comer e aproveitavam o resto da
noite para brincar na piscina de uma casa de campo em que os donos só
iam de vez em quando.
Tudo combinado com o marceneiro,
na noite seguinte surgiu uma casa em cima da árvore. Enquanto os
meninos estavam comendo e se divertindo nas piscina, 40 trabalhadores
, um guincho e algumas máquinas de serra estavam trabalhando para
construir a casa em pouco tempo. As camas foram compradas por Janjão
nas Lojas Idur, que eram as mais famosas da cidade com a recomendação
de que fossem entregues de madrugada logo após a construção da
casa. Quando só meninos voltaram, o que viram foi uma escada que
dava numa linda casa da árvore. Não tiveram dúvidas, subiram na
escada de madeira e ao chegarem lá em cima, se refestelaram, pulando
nas 12 camas macias que lá em cima na casa encontraram. Acharam que
fora papai Noel ou algum duende que ouvira seus pedidos por terem uma
casa. Ficaram muito felizes com as camas que agora poderiam usar para
dormir. Por outro lado a casa virou atração na cidade de Sar. As
pessoas desviavam o caminho habitual para passar por aquela praça
durante o dia. A sorte dos meninos é que tinham um sono tão pesado
que nem se importavam com tanto barulho de carros passando para ver a
nova casa na árvore.
-Mas então a história acabou
tio? Perguntou uma menininha loira de cabelos lisos e de óculos que
estava ali, bem perto do contador de histórias atenta.
-Não menina, ainda não. Não
querem que eu conte mais hoje?
-Claro que queremos, gritou a
garotada
-Então vou continuar. Agora,
depois de termos visto toda a bondade de Janjão construindo a casa
para os moleques, veremos o que é maldade. Os irmãos Cordeiro não
estavam gostando nada da história que tinham ouvido. A jornalista
postou em seu blog uma historia de uns meninos que comiam a noite no
Restaurante Janjão e dormiam de dia na casa da árvore.
Janjão nem tinha visto o post
da jornalista Enna Santos, porque ele afinal trabalhava muito em seu
restaurante. Mas os irmãos Cordeiro notaram que o movimento no
restaurante deles diminuiu muito e no restaurante de Janjão
aumentava a cada dia. Logo alguns clientes começaram a perguntar a
Janjão se aquela história era verdadeira ou não. Janjão a
princípio pensou em negar, mas depois, quando alguns moradores
conferiram a história, não teve como. A cidade toda ficou sabendo e
mais e mais cliente vinham comer no Restaurante Janjão para
confirmar a história com o próprio benfeitor dos meninos.
-Então você se tornou pai de
doze meninos de uma só vez Janjão?
-Bom, eu apenas os alimento.
Eles deveriam ter mães que cuidassem deles e os fizesse fazer coisas
cotidianas como escovar os dentes depois de comes, ou lhes contasse
uma história entes de dormir. Alguém que lhes ensinasse a ficar
acordados de dia e a dormir a noite, para serem crianças normais.
Alguém que os levasse para a escola, essas coisas que pais e mães
fazem pelas crianças.
-Mas porque você não faz isto
Janjão?
-Bom, eu tenho meu restaurante e
sem ele funcionando bem não conseguirei alimentar tantos meninos.
Dai o que posso fazer por eles por enquanto é isto.
Os Cordeiro, chateados com o
sucesso de Janjão começaram a tramar algo para atrapalhar o
andamento de seu restaurante.
Mateus cordeiro pensou:
-Se durante o dia Janjão
trabalha, e a noite os meninos estão lá, como poderíamos fazer algo
para que as coisas dessem errado para nosso vizinho? Ah, pensou com
sua mente malvada. Vamos tramar um roubo. Vamos roubar todas as
economias de Janjão, assim ele não poderá comprar mais mantimentos
e seu restaurante e essa gurizada ameaçadora sumirão do mapa.
Havia uma ou duas horas durante
a madrugada em que Janjão estaria dormindo e as crianças já teriam
saído do restaurante. Contrataram um ladrão trapalhão para roubar
janjão e combinaram com ele o que devia ser feito.
Naquela noite Janjão foi dormir
e as crianças foram brincar na piscina da casa abandonada. O ladrão
Pimpão bobalhão entrou no restaurante dos cordeiro achando que
estava no restaurante de Janjão e roubou um milhão de dinheiros que
estavam guardando havia muito tempo os irmãos. Achou então que
podia, já que o roubo havia sido feito, passar no restaurante dos
cordeiro, que para ele era o outro ao lado, e comer umas batatas
firtas que ele mesmo podia fritar. Pulou uma cerca de madeira que
tinha entre os dois restaurantes que também tinham mesas de madeira
e vários moveis de madeira e foi direto pra cozinha do trailer de
Janjão, achando que estava no trailer dos Cordeiro. Ocorre que
durante a fritura das batatas, o ladrão se distraiu comendo
biscoitos e fez algum barulho. Janjão acordou e pulou da cama. O
ladrão começou a correr e derrubou óleo fervendo no trailer e o
fogo pulou no óleo. Janjão nem viu o fogo pegando em seu
restaurante, correu para fora atrás do ladrão que levava um saco com
um milhão de dinheiros que o ladrão roubara do restaurante dos
Cordeiro. Quando janjão percebeu o fogo já era tarde. Seu
restaurante estava todo em chamas e juntamente com ele, o restaurante
dos Cordeiro.
Janjão ficou arrasado. Todo seu
dinheiro, que eram 500 mil dinheiros, estavam dentro de um cofre no
restaurante. Como o cofre havia queimado, o dinheiro dentro dele
provavelmente estaria queimado também. E Depois que os bombeiros
vieram e apagaram tudo, foi constatado que realmente, o dinheiro que
Janjão tinha juntado durante tantos meses de trabalho estava todo
preto, queimado, em cinzas.
A policia investigou o incêndio
e vizinhos viram e identificaram o ladrão. Este logo foi preso, mas
o estrago que fez deixou tanto os meninos da casa da árvore quanto
Janjão em maus lençóis. Na delegacia o ladrão confessou o roubo
que fêz e que foi contratado pelos irmãos Cordeiro para roubar
Janjão. O incêndio aconteceu por acaso. Quando a polícia foi atrás
dos irmãos cordeiro, eles já tinham picado a mula. Sairam até do
país de Idur com a pouca quantia que ainda lhes tinha sobrado em
dinheiro depois do incêndio. O ladrão Pimpão trapalhão porém era
tão burro que não se lembrava onde tinha escondido o dinheiro que,
em sua consciência, teria roubado de Janjão. A policia o prendeu
mas não conseguiu arrancar dele onde escondera o dinheiro afinal. As
crianças agora não teriam mais onde comer, visto que no restaurante
de Janjão não poderiam nem entrar porque era tudo escombro por lá.
Janjão, desesperado, sentou-se na praça da árvore e não sabia o
que fazer. Os meninos ficaram sabendo da história e ficaram muito
tristes porque afinal começaram a gostar de Janjão e já sabiam que
ele era quem deixava a comida a noite para que eles então comecem e
pudessem sobreviver. Janjão chorava sentado na praça quando
resolveu olhar para cima e pedia a Deus que lhe ajudasse a encontrar
uma solução. Enquanto olhava para o céu, viu um saco pendurado
logo abaixo da casa da árvore, mas não se atinou que aquilo tivesse
alguma importância. Ficou ali prostrado, nem via o tempo passar. Não
sentia fome, não sentia frio, tamanha era a sua preocupação com a
situação em que agora se encontrava. No dia seguinte um dos meninos
viu aquele saco pendurado abaixo da casa da árvore e, com uma corda
enlaçou o saco e o puxou para baixo. Quando os meninos viram o que
havia dentro do saco, fizeram óóóóóóó......muito, muito
dinheiro. Logo deduziram então que fora o dinheiro roubado de
Janjão. Correram até onde era o Restaurante Janjão e viram um
homem todo sujo de carvão, procurando alguma coisa que pudesse ter
sobrado do incêndio. Era Janjão. Igor, o chefe dos meninos se
aproximou de Janjão e disse: Hei chefe Janjão, que tal construir
seu restaurante novamente?
-Construir como? Meu dinheiro
foi todo roubado pelo ladrão Pimpão Trapalhão, não tenho mais
nada. Como construir, me diga menino?
-É que a gente achou seu
dinheiro e viemos devolver a você. Sabemos que deixava sempre comida
todas as noite para nós. Achamos que você merece o dobro do que
perdeu e muito mais pelo que tem feito por nós.
Janjão ficou impressionado com
o achado dos meninos. Depois de contar o dinheiro, notou que havia
dinheiro em dobro ali e disse: Ou eu não sabia o quanto tinha ou é
a resposta de Deus as minhas orações. Por isto, vocês, de agora em
diante serão meus sócios no restaurante e não mais meus comensais.
Nada de comer de graça, cada um vai ter seu prato de comido todos os
dias e não as noites e serei opai de vocês que afinal me trouxeram
tanta sorte. Morarão na casa da árvores que construi pra vocês até
que cresçam e seremos todos uma família feliz.
-Ebaaaaa.. gritou a garotada
feliz.
-E então a história acabou?
Novamente disse a menina loirinha de cabelos lisos.
-Não menina, querem que eu pare
ou que eu continue?
-Continua, continua, continua,
gritaram as crianças ao pé do velho contador de histórias.
-Então vou continuar. Janjão
agora comprou o terreno da esquina inteiro com o bom dinheiro que
lhe apareceu. Montou um belo restaurante com uma mesa especial para
crianças em que todos os dias colocava doze cafés da manhã, doze
pratos no almoço e doze pratos no jantar e os meninos ali comiam.
Colocou todos os meninos na escola e cuidou deles até crescerem.
Quando cresceram, todos começaram a trabalhar no restaurante, que a
cada dia fazia mais sucesso pela historia que tinha. Logo Janjão e
seus doze filhos, abriram uma rede de restaurantes pela cidade de Sar
inteira e prosperaram, cada um com sua família. Hoje todos são
quarentões. E eu, este velho que vos fala, sou Janjão. Aposentado
porque me cansei de trabalhar tanto e resolvi virar um contador de
historias.
-Então o tempo todo Janjão era
você? Disse uma menininha de olhos amendoados. Porque não disse
logo que estava contando sua história?
-Porque minha cara, era o sabor
do chocolate, era a cereja do bolo.....eu Sou Janjão e adoro contar
histórias para as crianças.