quarta-feira, dezembro 13, 2006

A escola dos bichos - episodio 2

A escola dos bichos

Priscila está sentada na escada chorando a perda do seu caderninho de anotações:

Uhuuuummm! Eu não posso admitir que perdi meu precioso caderninho. Tinha escrito tudo lá!

A ovelha se aproxima e pergunta:

---Mééééé. Priscila, porque está chorando?
---Meu caderninho dona ovelha, eu o perdi!
---Há, mas o que tem isto, veja, eu nunca tive caderninho mas nem por isto sou infeliz.
---A sra não entende mesmo né dona ovelha! Deve ser porque é animal. Sabe, li num livro que desde a muito tempo o homem registra coisas. A gente tem este costume. Primeiro desenhava-mos na pedra das cavernas, as primeiras representações preservadas de homens e animais datam do final do paleolítico, entre 40.000 e 10.000 anos a.C. e são tão perfeitas que a gente pode até imaginar que já a uns mil anos o homem vinha desenhando coisas. Sabia que na espanha, em Altamira encontraram um desenho de um bisão ferido na parede de uma caverna que parece ser muito fiel á imagem do bisão.
---Bisão? O que que é isto?
---Bom, era um animal que parecia com um búfalo.
---Há. Eu nunca vi um bisão.
---É um animal muito antigo e já extinto dona ovelha, a senhora só poderia vê-lo em livros porque o homem registrou, ta vendo como meu caderninho é importante? Nele eu registro coisas que acontecem aqui na escola.
---Bom, mas para que servem as coisas que você registra priscila?
---Para que um dia alguém que viva muito depois de nós possa saber da luta que eu travei para conseguir uma casa para os meus amigos livros e também conseguir que as crianças deixassem os bichos em paz.
---Mas porque se importa tanto com isto? O tempo não existe para nós animais. Daí a gente não liga para este negocio de deixar registros de coisas.
---Bom, mas a mente humana vive no tempo e no espaço. Tudo para nós acontece em um determinado tempo e espaço.
---Acho que você está falando coisas difíceis demais. Eu não consigo entender.
---Jamais entenderia dona ovelha. Os animais não ligam para estas coisas de tempo. Por exemplo, se a senhora ouvir um grande estrondo, o que vai fazer imediatamente?
---bom, acho que vou sair correndo.
---Vê como pensamos diferentemente? Se eu ouvir um grande barulho vou querer saber de onde vem e como e porque ele ocorreu.
---Eu vou com meus instintos, se o barulho for grande eu sei que pode ser perigo a vista.
---Bom, mas com estava dizendo, o homem além de escrever em paredes também fazia esculturas em pedra que perduraram até hoje. Talvez ele tinha a idéia de que podia contar coisas para os outros que viessem a viver muito depois dele. Podia dizer como era seu mundo e em que acreditava.
---Depois de tudo o que me disse, eu pergunto. E o que tudo isto tem a ver com seu caderninho perdido?
---Tem que ele é uma prova de que um dia um diretor de uma escola preferiu uma vida melhor para os animais da escola, coisa que eu acho muito legal, mas não cuidou direito das crianças porque não quis dar uma casa para os meus amigos livros. Enquanto os animais atraem as crianças para vê-los, os livros espantam as crianças sem querer.
---Mas porque você acha que as crianças não gostam de ler?
---É meio complicado dizer qualquer coisa dona ovelha, mas acho que tudo começa na família da criança. Se o pai e a mãe não gostam de ler e não são vistos estudando e lendo, a criança começa achar que ler é um castigo. Afinal, só na escola ela tem que ler. A escola é um lugar que ela é obrigada a ir. Se não quiser ir para a escola os pais ficam bravos. Muitas vezes ela não quer ir na escola justamente porque tem que ficar quietinha escutando a professora e depois tem que ler coisas. Daí fica parecendo que ler é um castigo...
---Nossa, você acha mesmo isto Priscila?
---Uhumm! E eu concordo com as crianças, as vezes, quando a gente quer aprender de verdade alguma coisa, tem que ler com atenção e se concentrar, e isto não é fácil. Aprender as vezes dói um pouquinho. Por isto todo mundo tem resistência em aprender coisas novas. Acho que dentro da nossa cabeça tem um monte de neurônios preguiçosos. Se a gente deixar eles folgados, eles permanecem deitados a vida inteira. Mas, quando a gente obriga eles a trabalhar e eles ficam musculosos de tanto exercício a vida da gente fica bem mais fácil. Imagine se o homem não descobrisse a roda, a eletricidade e muitas outras coisas como nossa vida seria mais difícil.
---É, se vocês não tivessem descoberto a imprensa estariam até hoje escrevendo nas paredes das cavernas.
---Que é isto dona ovelha, a gente não vive mais em cavernas, a gente vive em casas.
---Sim, mas acho que o diretor não sabe disso não menina.
---Não fale assim. Acho que um dia ele vai entender que os livros precisam de uma casa e de alguém responsável por eles.
---Por que não damos uma volta na escola para ver se achamos o seu caderninho?
---Já procurei por todos os lugares e não encontrei. Mas podemos tentar de novo, quem sabe a senhora não me dá sorte.
Durante a caminhada pela escola dos bichos, Priscila foi vendo tanta coisa acontecer e cada vez ficava mais chateada por não ter seu caderninho para anotar tudo o que via. Foi anotando coisas nas mãos, nos braços e nos pés.
---a senhora poderá anotar tudo depois, disse dona ovelha.
---é que não sei se vou lembrar.
---Nisto eu posso ajuda-la. Os patos precisam de ração, o pavão reclamou de uns meninos e o cachorro titico disse que o cachorro fuxico está com resfriado.
---Lá vem o diretor.
---Olá Priscila, o que está procurando?
---Há sr. Diretor eu perdi meu caderninho. Estou muito triste. Veja, estava escrevendo as coisas nas mãos e nos braços por não ter um lugar pra escrever.
---Justamente por isto eu estava te procurando. Você o deixou em minha mesa.
---Que bom, muito obrigado, agora vou poder passar a limpo tudo que eu vi no tempo em que caminhava pelo espaço da escola.
---Tempo e espaço, nossa Priscila, você está muito filosófica hoje.
---Estavamos falando sobre a biblioteca sr. Diretor, eu e a dona ovelha aqui. Assim como é ruim não ter um lugar para registrar as informações que coleto, também é ruim não ter um lugar legal para guardar as informações que estão registradas nos meus amigos livros.
---Olha Priscila, eu estive pensando no caso. Acho que tem razão. Não posso prometer quando, mas vou projetar uma casa para os seus amigos livros lá em cima, perto da piscina que tal?
---Poxa esta é uma noticia muito boa.
---assim que eu vir que é possível, vou iniciar as obras, talvez lá para agosto fique pronto.
---Olha lá em diretor, promessa é divida, estamos em julho, até agosto há tempo de iniciar as obras. Não vejo a hora de utilizar a nossa biblioteca.
---Não se preocupe menina, um dia esta biblioteca sai....

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