quarta-feira, fevereiro 03, 2016

Eu tô com fuoooooome!

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Eu Tô Com Fuooooooome!


Que fome. Eu que sou apenas um blog mau alimentado é que sei a fome que passo!  Depois que inventaram de por a boca no trombone nos podcastings (ou seria podcasts?) e no youtube que tem imagem e tudo, minha vida de blog piorou muito. Ainda mais porque meu dono nem tem tempo para me alimentar mais. Ele só acha que pod e youtube é melhor porque fala e mostra. Pô, se ele me fizer falar, eu também falo. Olha só como estou falando! Tá certo que até hoje falei para ninguém. Meu mau e dos meus amigos é este. Ninguém ou quase ninguém lê muitos de nós e muitos lêem poucos de nós. Já dizem até que a blogosfera morreu. Não morreu não, hó eu aqui hó, tá vendo, to dando tchauzinho...não para ir embora é claro, só para dizer que eu existo. Mas se você está me lendo, por favor, entenda uma coisa. Blog que não comunica, se estrumbica. Ponha um link meu no seu blog. Me dá esta chance vai! Sabia que é assim que os podcasts pretendem sobreviver? É sim, colocando links dos outros e fazendo propaganda de outros para que subesistam. Então, faz meu jabá, meu ad, seja meu amigo. antes que meu dono pense que eu não causo audiência e crrrrr, me corte o pescoço. Bom, mas uma coisa ninguém POD negar, todo podcaster ou youtuber que se prese tem um blog. É, ao menos para isto servimos, para segurar os links dos nossos filhos. Sim porque nós viemos primeiro, nem bem chegamos já tão querendo tirar a gente de cena. há não...
A gente ainda vai pegar muita onda. Bom, te dei tempo, pensou com carinho na minha proposta? põe um link vá...

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Viagem pra não sei onde...


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Viagem pra não sei onde

-Não vai caçar hoje Saidur? Perguntou Deteo sua esposa.
-Não. Preciso fazer a grande viagem até a caverna de Aissai o guru.
-Mas porque você tem que ir, tenho mal pressentimento sobre isto, não vá.
-Deteo, tenho que ir, é o ritual. Todos os líderes das outras tribos já foram e chegou minha vez. Tenho que saber das previsões. Não posso trair nossa tribo.
-Então vá, mas volte logo, disse Deteo. Viram guerreiros da tribo Odar acampando aqui perto. Eles podem nos atacar a qualquer momento.
-Não se preocupe mulher, a tribo de Odar é muito menor em número que a nossa. Teriam que se unir aos Ogg para poder nos derrotar. Eles jamais fariam isto. Há odio entre eles e todas as tribos porque são traiçoeiros. Vou enviar alguns guerreiros para ver se este acampamento ainda está no mesmo lugar e se estiver, expulsamos eles.

Odar era um líder muito mal. Sua tribo traia todos os tratados que eram feitos entre os homens. Estavam quietos havia um tempo e se distraiam com o fogo que roubaram da tribo dos Ogg, mas o conselho de Odar sempre estava tramando alguma invasão. Eles eram impiedosos e não sobrava nada das tribos que eles atacavam. Só que não eram loucos de atacar a tribo do Grande Saidur . Em número de guerreiros eles eram inferiores, era um deles para cinco de Saidur.
Saidur começou sua viagem santa nas primeiras horas da manhã. Caminhou por florestas, montanhas e acampou no topo da cordilheira de onde ainda podia ver sua tribo. A caminhada longa que faria era um sacrifício pela paz pois, sabendo das previsões de Aissai poderia evitar guerras sem sentido e, ja que sua tribo era a mais numerosa do território onde vivia, tinha que ter pulso firma nas decisões para manter a ordem entre as outras tribos que brigassem. Todos os lideres das outras tribos respeitavam Saidur como um lider de paz, menos Odar.
Os homens que foram mandados ao acampamento dos guerreiros de Odar, quando lá chegaram só encontraram restos de comida, cinzas  e uma gosma preta estranha que nunca tinham visto. Voltaram para a tribo sem alardear nada, porque nada viram além de um acampamento espião normal. Mas era de costume as tribos se vigiarem, então, sem novidades.
Saidur naquela noite, dormiu e teve sonhos atordoantes com bolas de fogo que vinham do céu e destruiam tudo, mas achou que era apenas um sonho e continuou seu caminho na manhã seguinte
para a gruta do gurú. Ultrapassou um deserto onde quase morreu de sede. Sua pele estava queimada e ardida quando o deserto findou, mas a viagem estava quase no fim. Entrou numa trilha que, novamente dava em uma floresta e caminhou até ver uma pedra muito grande no meio da mata. No alto da pedra estava sentada uma figura esguia de um velho. Segurava na mão um cajado todo torneado que tinha na ponta uma cara de boi almiscarado, que era o simbolo da sobrevivência e da fartura. Sua barba branca e cumprida denunciavam sua idade avançada de 150 anos. Aissai estava em sua meditação profunda, mas pressentiu a aproximação de um guerreiro pelo cheiro de suor que exalava o homem lá embaixo.
-Aissai, gritou Saidur, venho em paz.
Aissai respondeu - Sempre em paz filho, suba aqui.
-Aissai, disse o guerreiro quando se sentou ao lado do gurú curandeiro, eu vim pelo ritual das visões para poder manter a paz.
-Bom, meu filho. Mas as visões podem dizer coisas muito incômodas hoje, está preparado?
-Sempre Aissai. Tive um sonho horrível na noite passada, será que foi algum presságio?
-Sempre é filho, respondeu o velho, só depende de sabermos interpretar. O que você viu?
-Vi grandes bolas de fogo que caiam do céu e destruíam toda uma aldeia.
-As bolas de fogo? Então você também viu?
-Sim oh grande gurú, o que significam?
-Eu as vi em minhas meditações.  Elas significam o que você viu mesmo. Destruição total e vejo mais agora. A aldeia destruída será a sua. Odar se associou aos demônios do fogo, controlou as bolas de fogo e consegue lançá-las a grande distância agora. O povo atacado nem vai ver de onde vem as bolas, pensará que são os deuses castigando. Tudo ficará incendiado na aldeia, a própria correria já matará alguns, depois virão mais bolas de fogo e matarão quem for por elas atingido e em seguida, se aproveitando da confusão, os cavaleiros de Odar se aproximarão, mesmo que em menor numero, matarão a todos filho, todos. Você tem que tentar impedir isto.
-Eu tenho que ir então Aissai. Meu deus, minha mulher e família estão lá, meus amigos, meus pais, meus filhos. Tenho que ir. Obrigado Aissai.
-Corra filho, vá. Lamento terem as visões sido tão cruéis com você e sua tribo.
Se cumprimentaram e Saidur saiu em disparada mal se lembrando do cansaço da viagem até ali.
Correu muito, nunca correra tanto. Fez todo o caminho de volta na metade do tempo em que foi. Quando chegou na aldeia pensando que daria tempo de traçar uma estratégia para conter Odar, viu o caos. Todos mortos. Sua família, seus amigos, todos os que estavam em tendas e muitos que sairam das cavernas pelo barulho para ajudar acabaram morrendo.
Saidur pos as mãos na cabeça ao ver aquele horror. Horror por todos os lados. Horror, horror. Viu sua família morta, sangue, muito sangue. O ódio tomou conta de seu ser. Gritou com uma voz desesperada alto, muito alto.
-Odar, o sangue de minha tribo clama por justiça. Você será punido.
De repente ouviu barulho de um exercito que chegava. Eram soldados de todas as tribos que foram mandados telepaticamente por Aissai, o gurú,   para evitar a chacina e controlar o mau, mas chegaram tarde e o mau ja havia sido feito.
Saidur cremou os mais próximos e alguns da tribo que conseguiram sobreviver por estarem em profundas cavernas se juntaram a ele e cremaram todos os mortos em grandes piras com a ajuda dos guerreiros dos exércitos aliados.
Saidur queimava de ódio por dentro. Planejou então o grande ataque contra Odar. Calculou um ataque surpresa onde não haveria tempo de Odar preparar e lançar as grandes bolas de fogo com betume, substância que aprendera a usar para manter as bolas incendiadas. Quando tudo estava preparado, ao invés de ir com grande estrondo, fez um grande cerco com os soldados dos exercitos aliados, mas entrou no meio do cerco com seus melhores guerreiros a noite e sorrateiramente. Foi pegando uma a uma das sentinelas sem deixar que os soldados soltassem um pio. Naquela noite ele descumpriu todos os tratados, assim como Odar tinha feito. Matou um a um seus inimigos enquanto dormiam. Os que porventura escaparam foram mortos no cerco maior quando tentavam fugir da ira de Saidur. Não sobrou nada da tribo de Odar, nem crianças, nem mulheres, nem velhos. Ninguém foi poupado. Só assim a ira de Saidur foi aplacada e ele voltou a sua terra. Agora sua tribo era muito pequena e ele tinha que recomeçar.
Saidur envelheceu e carregou consigo até a morte a dor de perder as pessoas que amava, mas também a culpa de ter se igualado a Odar na covardia de ter matado mulheres, velhos e crianças. Ele sempre refletia sobre o que fêz e, se mais velho e experiente fosse, jamais teria agido daquela maneira. O rei da vingança, foi este seu apelido até o fim de sua vida. Muitos ainda contaram sua historia por muito tempo depois que veio a morrer com 250 anos.
Esta foi uma de minhas vidas passadas. Vi, senti, chorei meus mortos e senti cada gota do ódio que Saidur sentiu. Vivi cada momento da lembrança desta que foi a mais sangrenta das vidas que vivi durante uma regressão a vidas passadas. Me lembro da culpa que carreguei nos ombros pela grande vingança que cometi e do alívio que a morte foi para mim quando em fim deixei minha tribo naquele maravilhoso e verde vale e corri para a grande luz que me ofuscava.

Rudi Santos

terça-feira, fevereiro 02, 2016

O mago das plantas que curam

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                                O mago das plantas que curam


Não quero imitar outros que falam de suas vidas como se ja estivessem mortos . Não, estou vivo, vivinho da silva. Sou apenas um menino de oito anos que tem lembranças estranhas. Não sei de onde elas vêm, mas sei que são bem reais, juro que parece que vivi de verdade as coisas que lembro quando estou aqui, sentado embaixo desta mangueira escrevendo em meu diário. Fora as lembranças eu, outro dia, sentei no piano que minha mãe acabou de comprar e toquei uma música da qual me lembrei. Minha mãe disse que toquei perfeitamente a nona sinfonia de um tal de Beethoven. Não sei quem é, acho que ele foi um músico famoso. Mas as lembranças que tenho não são da vida de Beethoven. Andei pesquisando e notei que a vida dele não tem nada a ver com a das lembranças que eu tenho. Mas, vamos fazer assim. Eu vou fingir que estou contando uma historia para meu diário, este que escrevo agora. E você, se por acaso um dia vier a ler o que escrevo, vai esquecer que sou apenas um menino, sentado embaixo de uma mangueira sentindo o cheiro maravilhoso de manga madura a beira de um rio e simplesmente vai embarcar em minha historia.
Era uma casa de fazenda, um casarão com jardins em volta de toda ela. Haviam flores de todo tipo e todas as cores enfeitando os arredores. Coqueiros altos balançavam sempre ao sabor dos ventos e grandes gramados verdinhos verdinhos. Em frente a casa, canteiros de flores as vezes quadrados e as vezes em forma circular. Era o que dava para ver da sacada ampla da casa. Eu aprendi a tocar piano desde bem pequeno, lembro-me de um lindo piano de calda que havia na sala ampla do casarão.
Não que isto fosse importante, mas estávamos, eu e minha família morando nos Estados Unidos. Foi no tempo da primeira guerra mundial. Meu pai era um caixeiro viajante  muito bem sucedido.  Eu, para dizer a verdade, pelo que me lembro nunca conheci meu pai a fundo. Ele nem parecia gostar de crianças e eu era seu filho único. O velho estava sempre viajando e eu quase não o via. Minha mãe casara-se por amor quando meu pai ainda era um pobre diabo. Este amor parece que foi se apagando com o tempo e se transformando em solidão com a ausência de meu pai da fazenda. Ela bebia muito e vivia enfurnada em seu quarto curtindo uma dor de cabeça de uma ressaca interminável. Tínhamos vários escravos. Eles eram em torno de uns 50. Eram a princípio poucos, uns 15 talvez, mas ele se reproduziram e reproduziram e se tornaram muitos, ao menos era esta historia que ouvi meu pai contar sobre eles. Eu nem sabia que eram escravos, hoje tendo estudado historia eu sei. E, sabe porque eu não me dei conta disto? Porque eles me criaram desde bebê. A Naná era minha ama de leite e me amava como a um filho. O Papou, marido de Naná era mais do que um pai para mim. Eu mais vivia com eles do que com meus pais. Papou me ensinava tudo sobre o jardim e as plantas. Ele tinha um jardim só de plantas que curavam todas as doenças. Ele sempre me dizia:

-Doença que planta não cura fio, é doença que a alma aceitou e não quer largar mais. Do resto tem planta que cura toda doença.

Me lembro com uns sete a oito anos em minha primeira lição com Papou Saiasi. Ele já era adulto e tinha filhos, mas me tratava como um deles. Eu e seus três meninos, um de sete, outro de oito e outro de nove anos eramos para ele seus quatro aprendizes de curandeiros. Papou Saiasi tinha que passar a frente seus conhecimentos e ia caminhando no meio do seu jardim com seus 3 filhos negros e eu, o patinho feio da turma, o filho branco. Ele ia dizendo.

- Tão vendo esta planta aqui? Esta chama chapéu de couro. Serve pra curá reumatismo de velho e inté reumatismo de sangue. Tá vendo esta arvre aqui, quando menino tivé perdido na mata e precisá dicumê é só riscá a casca que sai leite. Notem bem cumé a foia dela e a casca dela. Tem que aprendê direito pra num si invenená. Prova aqui meninos.

Eu e os meninos provamos, o leite tinha gosto de amendoim, era bom.

 -Mas não pode bebê muito, disse ele em tom sério, só bebe pra se alimenta e dispois para. Senão dá dor de barriga.

Ele nos ensinava um pouco todos os dias enquanto trabalhava no jardim arrancando as tiriricas e outras hervas daninhas. Tinha folhas que curavam hematomas, chas que curavam desinterias e até a cura para o diabetes ele tinha. Para mim aquilo era pura magia. Curar a dor de alguém com uma planta amiga, pôxa, que bacana!
 E assim, todos os dias eu acordava já pensando em ir explorar o jardim de Papou Saiasí. Minha mãe quase nem tinha contato comigo. Só me via de vez em quando para me dar um beijo com cheiro de rum ou Whisky. Eu sinceramente não tenho ideia de onde ele conseguia tanta bebida.
Um dia, recebemos a visita de um cavaleiro. Meu pai que havia saído de casa para uma de suas viagens estava ja há meses sem dar noticia.

-Infelizmente venho lhe dar más notícias, disse o cavaleiro a minha mãe. Seu esposo faleceu. O navio em que ele estava levando sua carga foi atingido por uma bomba jogada de um avião. Acho que foi confusão ou maldade do piloto de caça. O navio se quebrou em dois e afundou  e, como e estava em alto mar, não deixou nenhum sobrevivente.

O cavaleiro se retirou dando as condolências e minha mãe se pôs a chorar daquele em dia em diante para nunca mais parar até morrer de tristeza e cirrose pouco tempo depois.
Foi assim que os escravos então passaram a cuidar de mim e de minha fazenda. Eu, quando fiquei um pouco mais velho, pedi que Papou Saiasí e sua família, que antes moravam na senzala, viessem morar comigo dentro da casa de meus pais. Eu havia dormido sozinho por tempo suficiente e as vezes, a noite eu acordava no teto, olhando para baixo e vendo meu corpo dormir lá na cama, la embaixo. Aquilo me dava medo. Dai contei para a Naná e o Papou e pedi encarecidamente que eles nunca mais dormissem longe de mim. Eram para mim pais adotivos amorosos e carinhosos. Eu adorava meus irmãos negros e pedi a eles que dali em diante me adotasses e fossem para mim a família que eu havia perdido, o que fizeram de bom grado para minha felicidade.
O tempo passa muito rápido em nossas vidas. Cresci nesta comunidade de ex-escravos que fiz questão de alforriar assim que pude assinar papéis por conta própria. Dos 50 escravos que meu pai tinha eles viraram 70 depois de algum tempo e formaram então a primeira comunidade de negros livres de Wisconsin. Os amigos de meu pai branco me ajudaram a continuar meus estudos e me formei em medicina. Era um bom médico e cuidava de todos os que me cercavam, tivessem dinheiro ou não. Meu pai deixara-me muitas rendas e propriedades que foram bem cuidadas pelos ex-escravos e serviram para nos acomodar a todos e ver nossas famílias crescerem.
Casei-me com uma linda mulher em época oportuna. Já era formado e atendia em meu consultório quando olhei para Lucie como mulher. Ela era uma das lindas negras de minha fazenda com a qual eu brincara na infância e crescera correndo atras dela pelos gramados. Ela também me olhou com olhar diferente e nos apaixonamos, nos casamos e tivemos dois filhos lindos.
 Meu pai preto, sempre me acompanhou em tudo o que eu fazia. Ele tinha orgulho de mim e da ajuda que eu dava para as pessoas sendo o médico da comunidade. Naná e Papou Saiasi envelheceram , viram seus netos e até bisnetos e morreram com ais de cem anos cada. Eu fiquei muito triste com a morte deles, afinal Papou Saiasi era meu pai preto querido e Naná minha mãe preta.
Antes de Papou falecer ele já sabia de sua morte e me disse:

-Nóis num morre não. Depois do portal que a morte traz tem vida, a vida da alma. Vou sempre estar com você fio.  Quando precisá de argum remédio de planta, me chama que venho te dize como faz se oce num lembrá de tudo o que te ensinei.

Eu jamais esqueceria dos ensinamentos de Papou, pensei. Quero te-lo em meu coração para sempre, mas não vou jamais chamá-lo para me dar receitas de chás depois que ele morrer, cruz credo!

Ocorreu que um dia uma das moças negras da comunidade ficou doente e, por mais que eu estudasse nos livros e tentasse chegar a uma conclusão sobre o que ela tinha, não acertava o remédio convencional. Papou já se fora havia mais de dez anos, nem me lembrava mais da conversa que tivera com ele no seu jardim. Um dia, desesperado por ver uma moça tão linda que poderia ser minha filha, morrendo sem que eu conseguisse ajuda-la, fui fazer um passeio no Jardim de Papou Saiasi para, quem sabe ter alguma iluminação. Me lembrei de como Papou me ensinava e aos meus irmãos negros sobre todas as plantas que haviam ali. Fiquei com os olhos fechados por um tempo e quando abri meus olhos vi nada mais nada menos do que Papou em pé a minha frente. Estremeci até os ossos, mas fiquei ali parado. Ele sorriu para mim como sempre fazia com seus belos dentes brancos. Apontou-me uma planta e eu instintivamente fui até ela. Ele então mostrou quatro dedos e apontou para as grandes folhas. Entendi, quatro folhas. Fez um gesto com a mão, como mexendo em uma panela, cozinhando e por fim mostrou-me com a mão dois dedos. Sim, duas vezes ao dia. Entendi o recado ainda atônito.
No mesmo dia fiz a receita e dei para a moça. Ela sarou em pouco tempo. Dai para diante, sempre que eu tinha casos mais graves que a medicina convencional não resolvia, eu ia até o jardim de Papou Saiasi e ele sempre me orientava. Com o tempo comecei a ouvi-lo em meu pensamento. Ele já não precisava mais fazer gestos.
Envelheci também e tive filhos e netos. Me lembro do dia em que morri.Eu estava em meu avental de médico atendendo um paciente, lá pelos meus 80 anos. Vi Papou Saiasi entrando no consultório em plena luz do dia e não entendi porque ele faria isto, já que eu sempre o via no seu jardim. Ele falou comigo brandamente.

-Vem fio, tá na hora docê passá o portal. Naná e eu te esperamos pra podê segui caminho.

Tive então um desmaio e caí duro que nem uma pedra no chão. Chamaram minha esposa, mas eu já estava morto. Lembro que vi ainda meu corpo caído ali e olhando para trás de mim, vi Papou e Naná de braços abertos me esperando. Senti-me feliz e corri como uma criança para os seus braços. Papou me mostrou seu novo jardim e Naná me levou para onde eles agora viviam, no meio de lindas e coloridas flores.
Dai, não sei como vim parar aqui, sendo filho de minha mãe e de meu pai. Minha mãe é branca e meu pai é Mulato. Meu pai me ensina muitas coisas sobre hortaliças e plantas que curam. Ele mora no meio da floresta em Rondônia. Parece, assim como meu pai preto, saber tudo de plantas que curam. ele tem uns papos estranhos, diz que vê anjos e já viajou num disco voador com Jesus. Acho que é piração do meu pai, o que vocês acham?