terça-feira, abril 11, 2017

Da biblioteca mágica de Rudibooks - Casa da árvore numero zero.

Era uma biblioteca muito engraçada, não paravam livros, batiam em retirada. Mas tinha livros a mão cheia, de todos os tipos e para todos os gostos. Ficava numa linda casa, na rua do livro que estou lendo, numero Zero no bairro dos melhores livros do mundo. A casa não era muito arrumadinha, mas haviam livros por toda parte. Passear com os olhos por essa biblioteca era como ir para um passeio ao acaso, sem hora de voltar e sem direção muito certa. Os livros saiam com mais frequência que chegavam, mas a biblioteca nunca deixava de estar cheia deles. Pessoas de vários lugares do pais recorriam à sabedoria guardada naquela biblioteca no país de Idur.

Dessa biblioteca escolhi alguns contos para vocês e aqui vai o primeiro;



Casa da árvore numero zero



Quem passa por aquela praça onde tem uma casa na árvore não sabe da história que aconteceu há 40 anos atrás. Hoje a casa é conservada por um grupo de senhores, donos de restaurantes que se espalharam por toda a cidade de Sar que fica no pais de Idur. Só um habitante do bairro, velho demais para morar na casa e já aposentado também do seu trabalho em restaurantes sabe contar a história como ninguém. É um velho que vive praticamente debaixo da casa da árvore a cuidar dela enquanto joga damas com os meninos que vem da escola direto para brincar na casa da árvore e, enquanto estão por ali, jogam damas e xadrez como o velho. Como há muitas crianças na cidade, que cresce a cada dia, sempre tem uma mais curiosa que pergunta ao velho: Quem construiu esta casa na árvore? O velho parece que espera por esta pergunta todos os dias, e quando uma criança a faz ele não se cansa de contar e recontar a mesma história.

-Então você quer saber quem fez esta casa? Muito bem, vou lhe contar a história, mas sente-se e ouça, não gosto de ser deixado no meio da história falando sozinho. Se sua mãe chamar pra ir pra casa, eu continuo a história amanhã, compromisso fechado? Vais ouvir a história até o fim?

Invariavelmente as crianças respondem que sim e o velho começa a recontar a velha história, cada vez com um detalhe diferente. É por estes novos detalhes que as crianças que já ouviram a história ficam ali de butuca, ouvindo também. Já teve dias em que o velho contou a história, ou parte dela, para mais de 20 crianças ao mesmo tempo. Elas não piscam, ficam sempre atentas às aventuras nessa história contidas.

-Bom, vamos então ao início, começa o velho. Era uma vez um retirante do nordeste que veio para a cidade de Sar para ganhar dinheiro e construir sua vida. Ele morava em um lugar de seca, muito afastado da cidade e um dia, ouviu falar que aqui na cidade grande havia muita água e sempre um lugar para trabalhar, ganhar dinheiro e formar família. Seu nome era Jânio João da Silva, mas as pessoas o conheciam pelo apelido que lhe tinham dado desde criança e pelo qual vamos chamá-lo de agora em diante. Janjão. Quando Janjão chegou na cidade de Sar não tinha nem dinheiro para comprar comida. Veio num ônibus apertado cuja passagem conseguira que um amigo lhe pagasse. Era moço, cheio de força para trabalhar. Começou carregando sacos de cebola e batata no Centro de Distribuição Agrícola da cidade. De tanto carregar sacos, Janjão foi ficando cada vez mais musculoso e forte. Janjão comia bem, porque ao fim de cada dia tinha gastado tanta energia que precisava repor com um belo prato de hortaliças, ovos cozidos, batata doce e inhame. Para o almoço sempre levava sua marmita com arroz, feijão, ovos e muita salada e assim saciava sua fome de trabalhador braçal. Enquanto almoçava sempre pensava em ter seu próprio negócio, um restaurante. Já que trabalhava carregando tanta comida, ele pensava, podia bem aproveitar os melhores preços que via das sacas de cebola, laranja, pimentão, batata, batata-doce , arroz, feijão e outras culturas para comprar para seu restaurante que já estava bem desenhado em sua mente. Seria naquela esquina ali, perto da praça onde tinha uma árvore enorme. Era uma esquina boa e ainda estava vazia. Janjão sempre torcia a cada dia para que o dono não tivesse ideia semelhante à sua e não alugasse nem vendesse o terreno para ninguém. Um belo dia, Janjão já tinha ajuntado dinheiro suficiente com seu trabalho de carregador e resolveu alugar o terreno e comprar as tralhas para montar seu próprio restaurante. Alugou metade da esquina por 500 dinheiros e ficou muito feliz com sua aquisição. Não alugou a esquina inteira porque tinha que deixar dinheiro para uns 6 meses de aluguel, caso a coisa demorasse a dar certo e além disto tinha que comprar fogão, botijão de gás, mesas e cadeiras, enfim todos os apetrechos mínimos para montar seu restaurante. Ele se fiava também no fato de que conhecia os fiscais da prefeitura que sempre tomavam café no mesmo bar que ele e que esses o ajudariam a tirar sua licença para poder trabalhar em seu restaurante em paz. Bom, alugado o terreno e tendo Janjão montado seu restaurante sob um telhado que ele mesmo construiu, servia-lhe de cozinha um trailer que ele comprou usado, mas que já era adaptado para ser uma cozinha de restaurante. Caso um dia precisasse se mudar daquele terreno, poderia levar sua cozinha junto e montar seu restaurante em outro lugar. Tudo certo e planejado, Janjão começou a fazer sucesso com sua comida. Ele aprendera a cozinhar com o pessoal do restaurante da Central de Distribuição Agrícola onde trabalhara, foi adaptando receitas básicas até que sua culinária ficou bem comentada por toda a cidade de Sar. Janjão trabalhava aos sábados, domingos e feriados, por isto seu restaurante sempre estava apinhado de clientes. Ele não tinha medo de trabalho, queria construir sua vida e ali estava ele, caminhando a passos largos para construir algo maior que nem ele sabia o que seria naquele momento. Só tinha tempo para trabalhar, então nem namorada arranjava, mas tinha fé que a moça certa apareceria no devido tempo. Um belo dia de sol, quando Janjão estava trabalhando em seu restaurante, viu um pessoal trazendo materiais de construção para o terreno ao lado, que ele, por que trabalhava tanto e não teve tempo, não alugou para aumentar seu restaurante. -Adivinhem que tipo de comércio montaram ali ao lado?

As crianças que ouviam o velho nem faziam ideia e ficavam olhando com cara de paisagem para ele.

-Tá bom eu digo. Montaram ali do lado um outro restaurante. Confiados em que a comida de Janjão era tão famosa na cidade em que muitos clientes vinham ao seu restaurante, os irmãos Mateus e Lucas Cordeiro montaram então ao lado um restaurante não tão bem aparelhado como o de Janjão, mas ao menos com o mesmo espaço em mesas e cadeiras. Ali então ficaram os dois competidores. Os irmãos cordeiro brigavam por clientes e trapaceavam oferecendo coisas grátis para que os clientes de Janjão experimentassem da sua comida que aliás era tão boa quanto a de Janjão e só perdia na criatividade dos pratos. Janjão tentou travar amizade com os empregados dos irmãos Cordeiro e com os próprios irmãos, mas qual nada, eles nem queriam papo, queriam mais era tirar toda a clientela de Janjão. Ah, esqueci de falar que o nome do restaurante de Janjão era...alguém tem uma ideia? Novamente as crianças olhavam com cara de paisagem para o velho....

-Vamos lá, chutem qualquer nome, quem sabe vocês acertam.

Nessa leva de crianças um menino de cabelo encaracolado, sardas no rostinho e bochechas gordas gritou....

-Que tal “Restaurante do Janjão?”

-Incrível! Como você sabia?

-É que eu sou muito inteligente, disse o menino

-Concordo, respostou o velho. Você é um orgulho para seus pais e amigos porque era esse mesmo o nome. Restaurante do Janjão. E ao lado havia então o “Restaurante do Lado” nome dado ao restaurante dos irmãos cordeiro. Pensado e repensado por eles mesmos que não eram donos de criatividade muito boa.

A concorrência entre os dois restaurantes se acirrava a cada dia mas Janjão sempre inovava seus pratos. Aprendeu a seguir receitas olhando nos livros e sempre tinha uma novidade a oferecer. No Restaurante do Lado a comida era quase sempre a mesma. O menu não era variado e sempre se sabia o que encontrar lá. Os irmãos Cordeiro queriam era ganhar dinheiro e não se importavam em deixar os clientes satisfeitos ou encantados com a comida.

Janjão passou a nem ligar para a concorrência, visto que seu negócio ia de vento em popa até que um dia, notou que alguns item havia sumido durante a noite da sua dispensa.

-Gatunos esses irmãos Cordeiro. Agora estão dando de roubar minhas provisões e me deixar na mão com meus clientes a pedir pratos que fico impossibilitado de fazer? Eu vou pega-los no pulo. Vou ficar hoje de butuca, escondido num cantinho bem escuro e quando o ladrão entrar, ah, ele vai ver.

E o pior é que o que sumia não era coisa de valor. O que estariam tramando os Cordeiro roubando pão, bolachas que eram usadas no pavê de sobremesa, chocolates que eram usados nos mousses deliciosos que Janjão servia. Aquilo o deixara encafifado.

Na noite que se segui ao primeiro roubo, depois de fechar o restaurante, lá estava Janjão escondido atrás de umas barricas de chops, no escuro quando ouvi alguns ruídos de gente entrando no restaurante. Pé ante pé ele via entrando um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito.....nove passaram mais dois perdeu a conta.....quanto dá mesmo? Nove mais dois?

O velhinho sempre fazia perguntas no meio de sua narrativa para ver se as crianças estavam ainda prestando atenção. Ele detestava platéias dispersas e gente dormindo durante suas contações de história.

-Onze, gritou de novo o molequinho de sardas e cabelo ruivo encaracolado.

-Ah, você está muito esperto hoje heim.

-Sim, continuou, e contou mais um...ficaram doze, doze moleques, todos menores de 6 anos, uns com uns 4 outros com 5 anos mais ou menos, todos entraram, pé ante pé e começaram a pilhagem.

Janjão começou a olhar aquela turma e observar o que eles queriam.

Era só comida que procuravam. Janjão resolveu não interferir naquele dia e ficou ali escondido. Seu coração mole o obrigou a ficar quieto ali no canto vendo aquelas crianças comendo do seu mingau sem pagar nada.

-Hei, gritou um deles – Aqui tem comida pronta, deixem as bolachas pra sobremesa.

Todos foram aos tachos de comida que tinham sobrado do dia e comeram a valer. E Janjão ali, já não aguentava mais ficar es condido porque estava agachado mas sabia que se levantasse eles iam correr e poderiam nunca mais voltar ali. Ele fora menino de rua em sua cidade por um tempo e sabia o quão importante era comer quando se mora na rua. Então resolveu que todas as noites deixaria doze pratos de comida para os moleque antes de sair do restaurante. Seria sua missão e seu agradecimento a Deus pelos clientes que tinha e pelos seus negócios estarem indo muito bem. A princípio ele não diria nada aos meninos nem a ninguém, depois poderia tentar um contato.

E assim, quando os meninos foram embora já eram quatro e tal da madrugada, Janjão foi para a cama, pois dormia ali, no restaurante mesmo, e ficou pensando de onde teriam aparecido esta turminha de meninos e se ele não poderia ajudá-los de alguma forma.

Na outra noite, quando os meninos entraram haviam doze pratos sobre uma enorme mesa que Janjão montou especialmente para seus hospedes noturnos.

Os meninos foram entrando, pé ante pé e Janjão ficou novamente ali escondido. Como sabia que iria ter que se demorar escondido atrás dos barris de chope ele já levou um banquinho e ali permaneceu escondido e sentado durante todo o assalto.

Janjão deixara também, além de comida, uns doces e bolachas que eles levariam para passar o dia sem fome, fossem por onde fossem. Janjão se perguntava, o que eles faziam durante o dia? Será que moravam al algum lugar? Resolveu então segui-los quando saíssem naquela noite. Depois que todos comeram e riram a valer com histórias que um ou outro contavam do que tinham feito durante o dia, deu o tempo de saírem. Eles não imaginavam que estavam sendo vigiados e que os pratos com comida foram ali deixados de propósito por Janjão. Saíram pela rua afora e andaram até a praça onde havia uma árvore imensa. Era bem perto do restaurante a praça, mas Janjão, como trabalhava que nem um doido o dia inteiro para manter seu negócio caminhando e prosperando, nunca tinha visto que, durante o dia todo aquelas crianças, todos meninos, ali permaneciam quase o dia todo. Eles deitavam na grama da praça sob a sombra da árvore e praticamente dormiam o dia todo.

Janjão, ao ver onde afinal eles iam quando saiam do seu restaurante se contentou pro aquele dia. Era um avanço. Sabia agora onde era o quartel general dos moleque que invadiam seu restaurante todas as noites.

Por algumas noites, Janjão deixou-se apenas observar os meninos enquanto comiam. Notou que tinha uma certa organização e ficou até curioso para saber quem era o chefe do bando. Viu um menino maior, de 6 anos, pele negra, cabelo pixaim e olhos negros comandando tudo e dando bronca quando algum menino fazia sujeira. O chefe dos meninos era chamado de Igor e tinha o respeito de todos os outros. Quando saiam ele sempre mandava os outros começarem a limpar toda a bagunça que por acaso tivessem feito e ele mesmo limpava comidas que tivessem caído na mesa ou pegava plásticos que houvessem caído no chão. Tudo tinha uma certa ordem. Com o tempo, eles só vinham, comiam e não mexiam em mais nada. Era como se soubessem que alguém em segredo estava cuidando deles. Um dia, uma jornalista da cidade, Enna Santos começou a ficar curiosa vendo crianças todos os dias ali naquela praça. Perguntava-se: -O que será que fazem os pais dessas crianças? Será que são todos órfãos? E as perguntas não paravam de perturbar a mente da jornalista. Até que ela resolveu segui-los o tempo todo por onde iam, sempre escondida para não tirar a naturalidade dos seus movimentos. Ela se inteirou de toda a história. As crianças eram alimentadas pelo “Restaurante do Janjão” e todos as noites iam ali para comer. Mas porque Janjão não falava com as crianças e simplesmente abria e fechava a porta da frente para a molecada entrar e comer?

Um dia após ter descoberto todo o movimento, a jornalista foi até o restaurante, pediu um prato suculento daqueles que Janjão sabia muito bem fazer e, antes de pagar a conta perguntou a Janjão: -Porque você não deixa os moleques que comem aqui durante a noite entrarem pela porta da frente do restaurante.

Janjão ficou branco, quase desmaiou depois desta pergunta. Falou que ele sabia que se ele aparecesse durante a noite e dissesse que eles podiam vir todas as noites ali comer, que eles podiam ficar com medo e fugir e isto ele não queria. Ele tinha tomado como missão alimentar aquelas crianças. Pediu encarecidamente a jornalista que jamais publicasse nada sobre aquela história até que um dia ele desse então consentimento. Se ela fizesse isto, despertaria a curiosidade das pessoas na cidade e coisas muito ruins poderiam acontecer de formas que ele não mais pudesse fazer este trabalho de caridade. Garantiu a repórter que queria mesmo era ver todas aquelas crianças na escola estudando, coisa que não faziam pois passavam o dia inteiro na rua. Mas ele tomaria providências com o tempo para que tudo ficasse melhor para aqueles moleques de quem já se afeiçoara tanto.

A jornalista então saiu prometendo que não iria publicar nada até segunda ordem , o que deixou Janjão mais tranquilo, mas ainda com uma pulga atras da orelha.

Os dias se passaram e as noites também. Janjão ouviu, numa das noites, um menino mencionar que achara algumas tábuas e que poderiam começar a construir uma casa na árvore. Um dos meninos achou um martelo e alguns pregos. No outro dia, Janjão, muito curioso, deixou um pouco seu restaurante na mão dos empregados e foi até a praça ver o que os meninos estavam aprontando. Quando lá chegou era um bate-bate daqui e um bate-bate de lá. Os meninos começaram a buscar mais e mais tábuas de rejeito na serraria e a pregar freneticamente umas tábuas as outras em volta da árvore e a montar um barraco de tábuas em volta da árvore. Janjão achou aquilo muito inseguro e logo pensou em fazer algo para abrigar aqueles moleque. Foi até uma marcenaria e contratou um marceneiro pagando o mesmo para fazer uma bela casa na árvore que coubesse doze camas de solteiro, uma para cada menino. A casa deveria ser segura e no alto da árvore, de formas que lá só chegariam os moleques. Deveriam ser contratados vários trabalhadores para que a casa ficasse pronta em apenas uma noite e em poucas horas. Deveriam ser tiradas as tábuas pregadas pelos meninos e no lugar seria colocada uma linda casa da árvore, onde eles passariam os dias dormindo, já que a noite saiam para comer e aproveitavam o resto da noite para brincar na piscina de uma casa de campo em que os donos só iam de vez em quando.

Tudo combinado com o marceneiro, na noite seguinte surgiu uma casa em cima da árvore. Enquanto os meninos estavam comendo e se divertindo nas piscina, 40 trabalhadores , um guincho e algumas máquinas de serra estavam trabalhando para construir a casa em pouco tempo. As camas foram compradas por Janjão nas Lojas Idur, que eram as mais famosas da cidade com a recomendação de que fossem entregues de madrugada logo após a construção da casa. Quando só meninos voltaram, o que viram foi uma escada que dava numa linda casa da árvore. Não tiveram dúvidas, subiram na escada de madeira e ao chegarem lá em cima, se refestelaram, pulando nas 12 camas macias que lá em cima na casa encontraram. Acharam que fora papai Noel ou algum duende que ouvira seus pedidos por terem uma casa. Ficaram muito felizes com as camas que agora poderiam usar para dormir. Por outro lado a casa virou atração na cidade de Sar. As pessoas desviavam o caminho habitual para passar por aquela praça durante o dia. A sorte dos meninos é que tinham um sono tão pesado que nem se importavam com tanto barulho de carros passando para ver a nova casa na árvore.

-Mas então a história acabou tio? Perguntou uma menininha loira de cabelos lisos e de óculos que estava ali, bem perto do contador de histórias atenta.

-Não menina, ainda não. Não querem que eu conte mais hoje?

-Claro que queremos, gritou a garotada

-Então vou continuar. Agora, depois de termos visto toda a bondade de Janjão construindo a casa para os moleques, veremos o que é maldade. Os irmãos Cordeiro não estavam gostando nada da história que tinham ouvido. A jornalista postou em seu blog uma historia de uns meninos que comiam a noite no Restaurante Janjão e dormiam de dia na casa da árvore.

Janjão nem tinha visto o post da jornalista Enna Santos, porque ele afinal trabalhava muito em seu restaurante. Mas os irmãos Cordeiro notaram que o movimento no restaurante deles diminuiu muito e no restaurante de Janjão aumentava a cada dia. Logo alguns clientes começaram a perguntar a Janjão se aquela história era verdadeira ou não. Janjão a princípio pensou em negar, mas depois, quando alguns moradores conferiram a história, não teve como. A cidade toda ficou sabendo e mais e mais cliente vinham comer no Restaurante Janjão para confirmar a história com o próprio benfeitor dos meninos.

-Então você se tornou pai de doze meninos de uma só vez Janjão?

-Bom, eu apenas os alimento. Eles deveriam ter mães que cuidassem deles e os fizesse fazer coisas cotidianas como escovar os dentes depois de comes, ou lhes contasse uma história entes de dormir. Alguém que lhes ensinasse a ficar acordados de dia e a dormir a noite, para serem crianças normais. Alguém que os levasse para a escola, essas coisas que pais e mães fazem pelas crianças.

-Mas porque você não faz isto Janjão?

-Bom, eu tenho meu restaurante e sem ele funcionando bem não conseguirei alimentar tantos meninos. Dai o que posso fazer por eles por enquanto é isto.

Os Cordeiro, chateados com o sucesso de Janjão começaram a tramar algo para atrapalhar o andamento de seu restaurante.

Mateus cordeiro pensou:

-Se durante o dia Janjão trabalha, e a noite os meninos estão lá, como poderíamos fazer algo para que as coisas dessem errado para nosso vizinho? Ah, pensou com sua mente malvada. Vamos tramar um roubo. Vamos roubar todas as economias de Janjão, assim ele não poderá comprar mais mantimentos e seu restaurante e essa gurizada ameaçadora sumirão do mapa.

Havia uma ou duas horas durante a madrugada em que Janjão estaria dormindo e as crianças já teriam saído do restaurante. Contrataram um ladrão trapalhão para roubar janjão e combinaram com ele o que devia ser feito.

Naquela noite Janjão foi dormir e as crianças foram brincar na piscina da casa abandonada. O ladrão Pimpão bobalhão entrou no restaurante dos cordeiro achando que estava no restaurante de Janjão e roubou um milhão de dinheiros que estavam guardando havia muito tempo os irmãos. Achou então que podia, já que o roubo havia sido feito, passar no restaurante dos cordeiro, que para ele era o outro ao lado, e comer umas batatas firtas que ele mesmo podia fritar. Pulou uma cerca de madeira que tinha entre os dois restaurantes que também tinham mesas de madeira e vários moveis de madeira e foi direto pra cozinha do trailer de Janjão, achando que estava no trailer dos Cordeiro. Ocorre que durante a fritura das batatas, o ladrão se distraiu comendo biscoitos e fez algum barulho. Janjão acordou e pulou da cama. O ladrão começou a correr e derrubou óleo fervendo no trailer e o fogo pulou no óleo. Janjão nem viu o fogo pegando em seu restaurante, correu para fora atrás do ladrão que levava um saco com um milhão de dinheiros que o ladrão roubara do restaurante dos Cordeiro. Quando janjão percebeu o fogo já era tarde. Seu restaurante estava todo em chamas e juntamente com ele, o restaurante dos Cordeiro.

Janjão ficou arrasado. Todo seu dinheiro, que eram 500 mil dinheiros, estavam dentro de um cofre no restaurante. Como o cofre havia queimado, o dinheiro dentro dele provavelmente estaria queimado também. E Depois que os bombeiros vieram e apagaram tudo, foi constatado que realmente, o dinheiro que Janjão tinha juntado durante tantos meses de trabalho estava todo preto, queimado, em cinzas.

A policia investigou o incêndio e vizinhos viram e identificaram o ladrão. Este logo foi preso, mas o estrago que fez deixou tanto os meninos da casa da árvore quanto Janjão em maus lençóis. Na delegacia o ladrão confessou o roubo que fêz e que foi contratado pelos irmãos Cordeiro para roubar Janjão. O incêndio aconteceu por acaso. Quando a polícia foi atrás dos irmãos cordeiro, eles já tinham picado a mula. Sairam até do país de Idur com a pouca quantia que ainda lhes tinha sobrado em dinheiro depois do incêndio. O ladrão Pimpão trapalhão porém era tão burro que não se lembrava onde tinha escondido o dinheiro que, em sua consciência, teria roubado de Janjão. A policia o prendeu mas não conseguiu arrancar dele onde escondera o dinheiro afinal. As crianças agora não teriam mais onde comer, visto que no restaurante de Janjão não poderiam nem entrar porque era tudo escombro por lá. Janjão, desesperado, sentou-se na praça da árvore e não sabia o que fazer. Os meninos ficaram sabendo da história e ficaram muito tristes porque afinal começaram a gostar de Janjão e já sabiam que ele era quem deixava a comida a noite para que eles então comecem e pudessem sobreviver. Janjão chorava sentado na praça quando resolveu olhar para cima e pedia a Deus que lhe ajudasse a encontrar uma solução. Enquanto olhava para o céu, viu um saco pendurado logo abaixo da casa da árvore, mas não se atinou que aquilo tivesse alguma importância. Ficou ali prostrado, nem via o tempo passar. Não sentia fome, não sentia frio, tamanha era a sua preocupação com a situação em que agora se encontrava. No dia seguinte um dos meninos viu aquele saco pendurado abaixo da casa da árvore e, com uma corda enlaçou o saco e o puxou para baixo. Quando os meninos viram o que havia dentro do saco, fizeram óóóóóóó......muito, muito dinheiro. Logo deduziram então que fora o dinheiro roubado de Janjão. Correram até onde era o Restaurante Janjão e viram um homem todo sujo de carvão, procurando alguma coisa que pudesse ter sobrado do incêndio. Era Janjão. Igor, o chefe dos meninos se aproximou de Janjão e disse: Hei chefe Janjão, que tal construir seu restaurante novamente?

-Construir como? Meu dinheiro foi todo roubado pelo ladrão Pimpão Trapalhão, não tenho mais nada. Como construir, me diga menino?

-É que a gente achou seu dinheiro e viemos devolver a você. Sabemos que deixava sempre comida todas as noite para nós. Achamos que você merece o dobro do que perdeu e muito mais pelo que tem feito por nós.

Janjão ficou impressionado com o achado dos meninos. Depois de contar o dinheiro, notou que havia dinheiro em dobro ali e disse: Ou eu não sabia o quanto tinha ou é a resposta de Deus as minhas orações. Por isto, vocês, de agora em diante serão meus sócios no restaurante e não mais meus comensais. Nada de comer de graça, cada um vai ter seu prato de comido todos os dias e não as noites e serei opai de vocês que afinal me trouxeram tanta sorte. Morarão na casa da árvores que construi pra vocês até que cresçam e seremos todos uma família feliz.

-Ebaaaaa.. gritou a garotada feliz.

-E então a história acabou? Novamente disse a menina loirinha de cabelos lisos.

-Não menina, querem que eu pare ou que eu continue?

-Continua, continua, continua, gritaram as crianças ao pé do velho contador de histórias.

-Então vou continuar. Janjão agora comprou o terreno da esquina inteiro com o bom dinheiro que lhe apareceu. Montou um belo restaurante com uma mesa especial para crianças em que todos os dias colocava doze cafés da manhã, doze pratos no almoço e doze pratos no jantar e os meninos ali comiam. Colocou todos os meninos na escola e cuidou deles até crescerem. Quando cresceram, todos começaram a trabalhar no restaurante, que a cada dia fazia mais sucesso pela historia que tinha. Logo Janjão e seus doze filhos, abriram uma rede de restaurantes pela cidade de Sar inteira e prosperaram, cada um com sua família. Hoje todos são quarentões. E eu, este velho que vos fala, sou Janjão. Aposentado porque me cansei de trabalhar tanto e resolvi virar um contador de historias.

-Então o tempo todo Janjão era você? Disse uma menininha de olhos amendoados. Porque não disse logo que estava contando sua história?

-Porque minha cara, era o sabor do chocolate, era a cereja do bolo.....eu Sou Janjão e adoro contar histórias para as crianças.

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