quarta-feira, janeiro 20, 2016

O James Bond Argentino



Tenho um amigo argentino de 70 anos que é uma figura. Desses amigos que você gruda nele e fica torrando até que ele lhe conte uma boa historia. A historia que relato aqui foi contada em várias partes onde ele volta sempre e conta com mais alguns detalhes que fui juntando e talvez até venha a acrescentar algo mais depois de te-la escrito.
Ele é engenheiro eletrônico. Hoje tem uma chácara em Ibiúna que aluga para fins de semana e feriados e vive de concertos em aparelhos eletrônicos que são para mim complicadíssimos, mas para ele são apenas repetições de circuitos e componentes que testa e faz reparos. Tem uma memória fantástica e uma inteligência e expertise em seu ramo de dar inveja aos que exercem sua profissão. Por ter sido militar ele conserva em seu comportamento resquícios de uma disciplina militar super rígida e que denunciam sua formação e sua militância nas forças armadas.
Quando jovem ele foi da policia federal da argentina e solucionava casos complicadíssimos que dariam material farto para filmes do estilo "James Bond". Foi treinado para matar inimigos públicos com todos os tipos de armas, inclusive seu próprio corpo era uma arma letal a quem lhe cruzasse o caminho e quisesse impor violência. Contou-me casos em que desarmou bombas, se disfarçou para poder chegar a chefões do crime organizado e agentes subversivos que queriam até matar seu presidente com armações das mais complicadas e incríveis.
O fatos que ele se apaixonou por uma moça e queria se casar com ela. Os pais da moça concederam-lhe a mão da amada com uma condição. Que ele se casasse e em seguida viajasse para Israel, para onde os pais dela iriam em seguida morar também, só faltavam alguns preparativos que os segurariam por mais um tempo na argentina e para lá viajariam também. Entrou no navio com sua amada e me relatou que, já no Rio de Janeiro, escala do navio, teve uma vontade imensa de jogar sua agora esposa pela janela para se livrar dela porque era muito ciumenta. Ele era bonitão, na verdade o é até hoje, mesmo na velhice. Ela o vigiava o tempo todo e faziam cenas de ciúmes em qualquer ambiente  do navio onde qualquer moça simplesmente olhasse para ele ou conversasse com ele. Na viagem decorreu quase tudo bem, mas a esposa teve muito enjoo e vomitava sem parar, o que lhe fizera ficar um tanto refém da convalescença dela. Ela não queria sair da cabine, mas, se ele saísse, ia atras para ver onde e com quem ele estava. Como as mulheres viam aquele cara bonitão "dando sopa" logo chegavam perto e começavam a querer conversar para conhecê-lo. Logo vinha a esposa e pronto, mais uma cena de ciúmes, brigas e confinamento na cabine em, que os dois permaneciam a maior parte do tempo. Ao chegar em Israel, antes de sair do navio ele recebeu uma carta do comandante dizendo que queria que ele comparecesse urgente a uma reunião no comando, assunto oficial. Ele não entendeu bem o porque da convocação, mas tinha que comparecer a tal reunião. Quando chegou na sala indicada, o comandante lhe disse o seguinte:
-sabemos que você foi da inteligência argentina e que era um dos melhores agentes em seu pais. Estamos lhe convocando para pertencer as forças armadas de israel. Lhe daremos o treinamento necessário para as missões que teremos para você. Sua esposa ficarâ num hotel com tudo pago pelo governo e terá uma condição financeira invejável. Daremos alguns dias para você conhecer a cidade e  descansar da viagem e logo lhe convocaremos para o serviço. Cederemos o seu uniforme e tudo o que você tem que fazer quando convocado é comparecer ao local indicado para treinamento antes das missões que lhe serão designadas. Vamos treina-lo como piloto da força aérea israelense e você irá atuar na manutenção e concerto de aeronaves e também vai pilotar aviões no decorrer de sua estada aqui. Ela, é claro, ficou lisonjeado com o convite e aceitou na hora, sem mais perguntas. Isto resolvia para ele o problema de ter que arranjar algum emprego em Israel, o problema da moradia e também o afastaria da mulher ciumenta durante as missões.
De fato, ele ficou uma semana e pouco conhecendo a cidade e se ambientando ao novo pais. Soube que os pais dela nunca iriam para Israel e usaram o casamento como pretexto para que ele aceitasse viajar e participar das forças israelense. Se tivessem lhe contado a verdadeira intenção de envia-lo para israel ele talvez não tivesse aceitado e se dissessem que o pai dela era um recrutador de especialistas para o exercito Israelense, talvez, pelo seu espírito livre e um tanto egoísta, ele não teria ido.
Ele conta que o treinamento militar era duro. Ele tinha que andar no deserto com todo o aparato de soldado. Roupas quentes, mochila pesadíssima que lhe forçavam os joelhos e treinaram-no sob as mais duras condições para que ele pudesse se sair bem nas missões. Em várias ocasiões, ele tinha que correr com todo o peso que carregava e pular na caçamba de caminhões de guerra (com pneus na frente e esteiras de tanque atras) e os caminhões estariam em movimento. Treinou tiro ao alvo e foi um dos melhores. Fez treinamento com armas brancas e aprendeu crav maga, uma modalidade de artes marciais que faz com que qualquer "Davi" subjugue qualquer "gigante Golias" com apenas um movimento de dedos. No treinamento, em algumas ocasiões ele tinha que colocar os dedos na areia quente e retirar depois de segurar um pouco. Os dedos iam ficando rígidos e a intenção era que ficassem fortes como o aço e rompesse qualquer substância dura com madeira ou mesmo carne e osso facilmente. Aprendeu pontos do corpo humano onde um toque apenas podia jogar no chão desmaiado ou morto um oponente que, quanto mais musculoso e grande fosse, pior seria o tombo.  Teve que todas as manhãs, pegar uma canoa na beira do mar e remar até uma ilha onde deveria chegar, se apresentar marcando sua presença com precisão de tempo e depois voltar ao continente com tempo contado em segundos. Durante o dia aprendia tudo sobre mecânica de aviões, colocação e retirada de misseis nos aviões e tudo sobre pilotagem de caças.
Ele foi muito bem nos treinamentos e logo, depois de poucos meses foi-lhe designada a primeira missão na guerra do golfo ou guerra do Iraque. Esta guerra e esta historia portanto, ocorreu pelos idos de 1990, quando Saddan Hussein, presidente e ditador do Iraque resolveu invadir o pais vizinho, o Kwait e tomou o pais como sua 19a província. Não vou me estender sobre o contexto dessa guerra porque hoje é muito fácil obter mais informações sobre ela na internet. Em suma, países aliados aos EUA fizeram um cerco e bombardearam o Iraque até a destruição quase total do pais. Israel enviava seus caças em missões de bombardeio e também para verificar em comunidades no deserto se haviam Iraquianos disfarçados de beduínos chegando mais perto do território israelense. Foi numa dessas missões que meu amigo foi enviado. Havia um acampamento que ele e sua companhia devia checar e lá se foi o batalhão que treinara nosso James Bond Argentino. Durante a revista, descobriram que realmente haviam inimigos infiltrados no acampamento e um deles era um lider sanguinário do qual ja haviam obtido informações. 
Em vantagem pelo elemento surpresa, renderam sem muito tiroteio necessário  os infiltrados e o lider . Na noite em que isto ocorreu, o comandante da tropa ficou sabendo que nascera seu filho e comunicou a tropa com muita alegria. Meu amigo, que gostava do comandante rejubilou com a noticia e comemorou com a tropa. O comandante israelense, movido pela emoção quis humanizar a prisão do líder iraquiano. Chegou perto dele, disse que seu filho havia nascido e, como estava muito feliz, daria-lhe um pouco de vinho e soltaria suas amarras para que bebesse e comemorasse com eles. Fiava-se o comandante no fato de que só soltaria um prisioneiro e que haviam em volta dele vários soldados israelenses, logo o homem nem pensaria em fazer qualquer ato de violencia ou nem pensaria em fugir. Quando o comandante empessoa soltou o homem, ele pegou-lhe a arma rapidamente e com a baioneta rasgou a barriga do comandante de forma que seus intestinos vieram para fora e ele caiu imediatamente morrendo segundos depois. Nosso James Bond Argentino quando viu aquilo, imediatamente passou fogo no homem com sua metralhadora. Primeiro nas coxas para que ele caísse, tomou-lhe a arma do comandante e desta vez atirou em seus pés com ela. Depois que o homem sofreu um bocado, atirou no abdômen e depois na cabeça. Poxa, mas você o matou friamente assim? perguntei eu no decorrer de sua historia. Ele me respondeu, sim. O comandante afinal era meu amigo e lhe fizera um gesto de amizade soltando-o e ele agiu deste jeito. Que mais poderia fazer? Sei lá, respondi eu, matasse o cara logo de vez. Mas e os soldados presentes o que fizeram? perguntei imaginando a cena. Alguns ja haviam bebido um pouco na comemoração e estavam meio lesos. Tudo aconteceu em poucos segundos, nem sei te dizer o tempo. Um dos soldados apavorados pegou a metralhadora e também atirou no cara, só que a pontaria dele não foi das melhores. As balas pegaram numa pedra que havia perto e uma delas ricocheteou pegando em minha perna. Quando me dei por conta estava eu, no meio do deserto, com aquele monte de soldados e ferido a noite. Os soldados viram o sangue em minhas pernas e vieram ao meu socorro. Eu sabia que iria apagar em breve se não contivesse o meu sangue que esvaia. Levávamos em nosso kit de sobrevivência uma agulha para costurar cortes. Arranquei fios de nylon de minha jaqueta, enfiei na agulha e pedi a um soldado que esterilizasse minha faca na fogueira. Ele a queimou no fogo e, ardendo como estava, eu enfiei no corte e retirei o chumbo que havia entrado. Com a agulha e linha costurei minha perna bem aqui. E me mostrou a cicatriz que tem até hoje acima da canela, na barriga da perna. -Então costurei esquecendo a dor e cuidando de fazer pontos firmes e em espaço pequeno um do outro. Fui fechando até costurar tudo. Os soldados a minha volta se enojavam e sentiam por mim a dor que eu me negava a sentir.Passei uma gaze por cima e amarei e assim o sangue foi sendo contido e parou de sair. Mas eu sabia que se não fizesse isto poderia causar gangrena ou uma infecção séria até ser atendido num hospital de base que sabia la eu quando ocorreria o atendimento. No outro dia conseguiram me levar para um hospital de base e os médicos ficaram admirados com o meu procedimento. Eles tiraram raio x e constataram que não havia mais chumbou ali. Me parabenizaram e disseram que felizmente eu não costurara constrangendo nenhuma veia ou artéria e que tudo ia ficar bem se eu trocasse os curativos. A guerra prosseguiu ainda por um tempo e meu amigo depois de recuperado ainda participaria de algumas missões. Depois, a guerra acabou e ele então foi dispensado dos serviços e em pouco tempo quis voltar a Argentina com a esposa. Sei que ele se separou dela, porque teve outros casamentos. Depois de um tempo ele veio morar no Brasil e viveu aventuras aqui porque inventava produtos eletrônicos que o deixaram muito bem de finanças por um bom tempo. Ele hoje conta muitas historias e eu sempre o instigo sempre a me contar mais pois suas histórias são sempre interessantes como achei esta. 

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